Análise | Especial Religião

Dossiê Papa: O discurso diplomático do Papa Francisco em Cuba

Em setembro deste ano, o Papa Francisco visitou Cuba. Durante os quatro dias que esteve no país, o pontífice enfatizou a importância da reaproximação de Cuba com os EUA e fez discursos que ressaltaram a paz e a reconciliação entre as nações. Já a crítica ao sistema capitalista e ao consumismo feita constantemente pelo Papa não ganhou destaque em sua fala durante a visita. O que será que este acontecimento revela acerca da postura de Francisco?

Papa Francisco em Cuba. Fonte: Vermelho.org

Papa Francisco em Cuba. Fonte: Vermelho.org

Reconciliação e paz foram os temas centrais das palavras proferidas pelo Papa Francisco durante sua viagem a Cuba, em setembro deste ano. O pontífice teve um papel importante na reaproximação entre os EUA e Cuba conforme destacam diferentes notícias.

Durante os dias que esteve em Cuba, conforme disponibilizado pelo próprio site do vaticano, o Papa ressaltou muito a questão da reconciliação em seus discursos. As notícias publicadas nos jornais também enfatizaram esse ponto das falas de Francisco.

Não há dúvida de que a visita do Papa a qualquer país do mundo se transforma em um acontecimento. Mas especificamente essa visita a Cuba traz aspectos que vão além das questões que envolvem a visita do maior líder religioso do mundo . Esse acontecimento é fortemente marcado pelo que se desenha no cenário diplomático internacional em relação a Cuba: a reaproximação e a retomada das relações com os EUA.

Apesar de ter chamado a atenção do mundo inteiro, por se tratar do Papa, a visita de Francisco à Cuba não suscitou grandes polêmicas. Pelo que parece, tudo se desenrolou dentro do previsto e do esperado. Mas como todo acontecimento, e esse não poderia ser diferente, a ida do pontífice a Cuba nos aponta uma instigante reflexão.

Em junho deste ano, o Papa Francisco publicou uma Encíclica, que ficou conhecida como Encíclica Verde, na qual faz duras críticas ao sistema econômico mundial e a autodestruição do planeta. Cuba é um país com um regime socialista, historicamente marcado pelo combate ao capitalismo e a esse sistema de consumo, do qual os EUA são o maior símbolo na atualidade. Nesse sentido, podemos identificar alguns discursos fortes convocados por este acontecimento: o discurso socialista, convocado pelo país visitado pelo Papa; o discurso capitalista e do consumo, convocado pelos EUA; e o discurso do pontífice em relação as questões econômicas e ao consumismo tão marcantes nos dias de hoje. Porém, ao olharmos para as notícias e para os discursos proferidos pelo Papa durante a visita, não encontramos em sua fala marcas fortes dessa disputa ideológica entre divergentes sistemas econômicos e ideais, nem mesmo é possível identificar alguma tomada de posição por parte de Francisco em relação a este ou aquele sistema.

Dito de outra forma, mesmo que o Papa tenha críticas declaradas ao sistema econômico americano e ao consumismo, como afirma na Encíclica, e que por especulação possa aprovar determinados pontos da economia defendida pelo governo cubano (já foi até chamado de “comunista”), o que se sobressai nos discursos é o clamor pela paz e pela reconciliação. E o que é que dá o tom da fala do Papa? A diplomacia e o posicionamento de não se comprometer ou de se indispor com nenhum dos dois países. Além de tudo, o território americano seria o próximo destino do pontífice. Além de um líder religioso, o Papa Francisco é também um chefe de estado. E muitas vezes se mostra mais como um conciliador do que um reformista, expectativa alimentada por alguns de seus discursos.

 

Maíra Lobato
Mestranda do PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do Gris

 

Confira as outras análises do Dossiê Papa:

Papa visita os Estados Unidos (Juliana Ferreira)

O Papa e a homossexualidade (Vanrochris Vieira)

 

Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de novembro, definido em reunião do Grislab.



Comente

Nome
E-Mail
Comentário