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Precisamos falar sobre suicídio.

Precisamos falar sobre suicídio, essa ação pode parecer individual e pessoal, no entanto Durkeim aponta essa morte como uma produção da sociedade. As influências sociais que perpassam em nossas vidas, referentes a esse assunto, são dotadas de poderes surpreendentes. Tratando-se de suicídio, é sempre bom lembrar que “falar é a melhor solução“.

Imagem: alegretetudo.com.br

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Quatro pessoas de uma família foram encontradas mortas por volta das 7h do dia 29 de agosto de 2016 no Edifício Lagoa Azul, que fica no Condomínio Pedra de Itaúna, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Os corpos de duas crianças (Arhur, 7 anos, e Henrique, 10 anos) e do marido (Nabor, 43 anos) estavam na área da piscina do prédio e teriam caídos do 18º andar, uma altura de aproximadamente 50 metros. O corpo da mulher (Lais, 48 anos) foi encontrado na cama, dentro do apartamento.

A princípio a polícia pensou se tratar de um caso de homicídio. No entanto, depois da descoberta de uma carta, ficou em evidência a hipótese de homicídio seguido de suicídio.

A carta em questão sinaliza alguns problemas profissionais que estavam acontecendo; um trecho deixa nítido o desespero do possível suicida: “Sinto um desgosto profundo por ter falhado com tanta força, por deixar todos na mão, mas, melhor acabar com tudo logo e evitar o sofrimento de todos”.

Somos altamente influenciados por nosso meio; o sistema capitalista, grande responsável por trabalhos exaustivos e buscas incessantes por dinheiro, imprime uma grande interferência e consegue moldar todos os parâmetros da nossa vida.

Um pai de família que acaba de perder o emprego e não possui uma renda suficiente para manter os gastos de uma família da classe média encontrou na morte dos seus filhos, da sua esposa e da sua própria morte uma forma de não sofrer os danos causados por essa falência. Não se trata, aqui, de condenar ou justificar o ato, mas de destacar o quanto um ato de clara natureza pessoal tem uma evidente inscrição social. Vale ressaltar, também, um histórico de suicídios vividos por Nabor; ele viu o suicídio da própria mãe, outros membros da família também cometeram o mesmo ato, o que mostra um quadro de influência familiar.

Com o objetivo de não motivar outras pessoas, informações sobre esse tipo de morte não são muito divulgadas, mas isso não significa que não aconteçam. Um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2015 revelou que o Brasil é o 8º país com mais suicídios no mundo.

A discussão deste assunto tem um link direto com a temática do Setembro Amarelo; trata-se de uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo de alertar a população a respeito dessa realidade no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Ocorre no mês de setembro, desde 2014, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações. O movimento utiliza a frase “Falar é a melhor solução” a fim de conscientizar a população sobre um outro tipo de tratamento dos problemas como alternativa ao suicídio.

O posicionamento da mídia sobre o assunto é um ponto importante, focando mais em casos do que no problema em si. Mesmo com o Setembro Amarelo, não foi possível notar uma diferença no tratamento da temática. É importante falar sobre o suicídio, e isto significa não apenas registrar acontecimentos isolados, mas, sobretudo, discutir a complexidade da questão, explorar seus fatores psicológicos e psiquiátricos, bem como as influências e condicionantes sociais que levam a tais medidas extremas. O suicídio significa menos a falência de uma vida individual que uma insuficiência da sociedade no acolhimento e tratamento de seus membros.

 

Paulo Basílio
Graduando em Comunicação Social pela Puc-Minas
Voluntário de Iniciação Científica do Gris/UFMG

 

Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de setembro, definido em reunião do GrisLab.



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