Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.
Campo de exposição: onde Malafaia é acessado?
O ministério Vitória em Cristo, liderado pelo pastor Silas Malafaia e estimado em 50 mil membros, realiza cultos com significativo público presente e transmite-os pela televisão. Comprando horários em canais de TV Aberta, o programa “Vitória Em Cristo”, chamado anteriormente de “Impacto”, está há cerca de três décadas no ar e é transmitido nos Estados Unidos, na África e na Europa. Malafaia é bastante atuante nas redes sociais digitais, tendo mais de 600 mil inscritos no seu canal do YouTube, mais de dois milhões de seguidores no Facebook, quase um milhão e meio no Twitter e dois milhões no Instagram.
Outros locais onde o pastor é acessado são muito críticos à sua atuação. Exemplo: nas tirinhas de “Um Sábado Qualquer”, que tematizam Deus e a religião, Malafaia foi mais de uma vez representado como fundamentalista.
Na grande mídia, Malafaia destacou-se dando entrevistas e participando de debates, como nos programas De Frente com Gabi, do SBT, em 2013, e Na Moral, da Rede Globo, em 2013 e 2015.
Também repercutiu o bate-boca com Ricardo Boechat, quando o pastor tuitou criticando o jornalista por denunciar intolerância e recebeu como resposta – ao vivo – uma impactante ordem: “vá procurar uma rola”. Na ocasião da morte de Boechat, fiéis insinuaram e afirmaram que o jornalista morreu como castigo por tocar a um “ungido do Senhor”.
Acontecimentos: as controvérsias de Malafaia
– Teologia da Prosperidade e investigações sobre enriquecimento
A revista Forbes publicou em 2013 que Silas Malafaia está entre os três pastores evangélicos mais ricos do Brasil. O pastor processou a revista nos Estados Unidos, que recentemente pediu desculpas, reconhecendo que o patrimônio do líder evangélico correspondia a 6% do que a publicação declarou na época.
Em 2016, Malafaia foi levado a depor em condução coercitiva, e, em 2017, indiciado por lavagem de dinheiro – resultados da Operação Timóteo. Segundo a Polícia Federal, o líder religioso é suspeito de emprestar contas bancárias de sua instituição para ajudar a ocultar dinheiro. Na ocasião do depoimento, Malafaia deu entrevistas manifestando indignação e alegando inocência quanto às doações que recebe.
Quando questionado sobre o desejo de riqueza dos fiéis motivado pela Teologia da Prosperidade, Malafaia argumenta que prosperar, tal qual o sentido bíblico, não significa necessariamente ficar rico, e sim viver bem. Ele também assume ser um dos pastores mais notórios em termos de visibilidade e recursos financeiros, mas lembra que a maior parte dos pastores no Brasil vive em condições diferentes, alegando ter passado e ainda passar por muita coisa para ter o que tem e chegar onde chegou.
– Homofobia e Conselho Federal de Psicologia (CFP)
Malafaia ganhou visibilidade militando ferozmente contra o PL122 (que ele acusa de criar privilégios para os homossexuais), criticando a união civil de pessoas do mesmo sexo e fazendo equivalência entre o amor que sente por homossexuais ao amor que sente por assassinos (“amo eles e não seus atos”). Ele diz que casais homossexuais são incapazes de criar seres humanos completos e sustent que, segundo sua fé, as relações com pessoas do mesmo sexo são pecado, sendo a homossexualidade uma conduta apreendida, não natural.
Sendo o pastor graduado em psicologia, suas declarações motivaram nota do CFP, destacando que a “atitude desrespeitosa de Malafaia com homossexuais ressalta um tipo de comportamento preconceituoso que não se insere, em hipótese alguma, no tipo de sociedade que a Psicologia vem trabalhando para construir com outros atores sociais igualmente sensíveis”.
– Participação na política partidária
Malafaia nunca escondeu seu interesse pela política partidária, embora não disponibilize o nome para candidaturas. Apoiou a eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara, criticou inclusive o afastamento do presidente via STF, e, posteriormente à prisão do membro da bancada evangélica, publicou em sua conta no Twitter: “que pague pelos erros”.
Apoiou sucessivas candidaturas contra o PT: José Serra para a prefeitura de São Paulo em 2012, Aécio Neves para presidente em 2014 e Jair Bolsonaro em 2018. Viralizaram tanto o vídeo em que recebe o atual presidente em sua igreja quanto o meme em que fotos antigas, ao lado de Garotinho, Pezão, Cunha e Temer, sugerem que quem Malafaia apoia é preso (Bolsonaro seria o próximo). O pastor se manifestou a favor da embaixada brasileira em Jerusalém, discordou tanto da influência de Olavo de Carvalho na eleição de Jair Bolsonaro quanto de quem queria impedir liberação de Lula para ir ao enterro do neto, questionando abertamente declarações de Eduardo Bolsonaro [1] [2].
Públicos e valores evocados pelo pastor
Silas Malafaia polariza públicos tanto em função da sua condição de pastor rico como por seus posicionamentos políticos ou sobre costumes. Para alguns, é um “ungido do Senhor”, premiado por Deus pelos esforços que realiza na evangelização e salvação das pessoas. Para outros, é, nas palavras do desafeto Boechat, um “tomador de dinheiro de fiel, explorador da fé alheia”. Para alguns, o pastor é um defensor da família; para tantos outros, alguém preconceituoso que tenta impor suas crenças arcaicas.
Gáudio Bassoli
Mestre em Comunicação Social pela UFMG e Apoio Técnico do Gris