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Acontecimento e política

O (tragicômico) acontecimento Eduardo Cunha

A análise apresenta Eduardo Cunha como “acontecimento”, ressaltando suas aparições na mídia, as controvérsias nas quais está envolvido e a cobertura – favorável ao deputado em setores da grande mídia, desfavorável com a citação na Lava- Jato, humorístico em alguns casos – em torno destas controvérsias.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha - Fonte: Pragmatismo Político

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – Fonte: Pragmatismo Político

A Wikipédia apresenta Eduardo Cunha como “um economista, radialista e político brasileiro. Evangélico, é membro da igreja neopentecostal Sara Nossa Terra. Atualmente é deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro pelo Rio de Janeiro.” Desde que assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, podemos dizer que ele também é um acontecimento, ou melhor, vários acontecimentos. O projeto de construir um shopping na Câmara, a compra dos domínios “Jesus” na internet, o pronunciamento em rede nacional e seu respectivo panelaço, a votação de projetos semelhantes a outros derrotados na véspera – ao que parece manobra inconstitucional.

Sobre este último aspecto, seja no caso do impopular financiamento privado de campanha ou no caso da popular (ou populista?) redução da maioridade penal, as propostas preferidas por ele foram votadas até saírem vencedoras – o que rendeu algumas piadas, como a aprovação de um novo jogo Brasil vs Alemanha na Copa, publicada no Piauí Herald. O financiamento da campanha do deputado rendeu outra piada: por coincidência, o termo “fazer cunha” significa “fazer lobby” em Portugal.

Até agora, o presidente da Câmara vinha contando com a benevolência ou mesmo o entusiasmo de setores das grandes mídias, não (só) porque eles “são contra o PT” (um mantra que virou uma espécie de “é culpa da Dilma” do lado de quem defende o governo), mas porque a posição dele garante que nenhuma votação de regulação da mídia irá acontecer. Mas, como diria o poeta, “acabou o caô”: o nome de Cunha foi citado por um delator na operação Lava-Jato, carro chefe da cobertura midiática de política.

Como o acontecimento convoca o passado, rememoramos o histórico do deputado, com denúncias quando participante do governo Collor e da gestão Garotinho no governo do Rio de Janeiro. O acontecimento também abre um horizonte de possíveis: quais as projeções do caso Cunha? Depois de romper (formalmente) com o governo federal, acusando a Lava-Jato de estar sendo manobrada politicamente pra prejudicá-lo, ele parece ter dado um tiro no pé. Mas continua aí, em reunião com grandes empresários entusiastas de sua política e assumindo um “discurso ponderado sobre impeachment”. Será que acabará como Severino Cavalcanti, outro “acontecimento tragicômico” na presidência da Câmara, que terminou sendo afastado após denúncias de um “mensalinho”? Ou continuará “governando o Brasil”, como sugerido por ironias de que a gestão do país foi terceirizada? Não custa lembrar, ele é um dos entusiastas do “projeto das terceirizações”.

Vamos acompanhar as cenas dos próximos episódios. O que podemos afirmar é que o jeito de fazer política que rendeu à Cunha o apelido Frank Underwood, vilão da série House of Cards da Netflix, mostra como o antipetismo (midiática, partidária e social) “contra a corrupção” pode continuar gerando frutos amargos: Aécio Neves, pedidos de golpe militar, bomba caseira… O Brasil segue capaz de nos surpreender.

 

Gáudio Bassoli
Mestrando do PPGCOM-UFMG
Jornalista e membro do Gris



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