Análise | Poder e Política

Aécio: cai a máscara, a casa ainda não

A delação de Joesley Batista trouxe a público provas contundentes do envolvimento de Aécio Neves (além do presidente Temer) em gravíssimos esquemas de corrupção. As denúncias de sua participação em propinas da JBS vieram se somar – e dar vazão – a inúmeras outras denúncias que se acumularam ao longo dos anos contra o senador. Sua imagem e sua carreira de candidato parecem ter sido seriamente atingidas mas, até então, Aécio mantém sua força de negociação e sua rede de apoios, inclusive no STF.
Foto: Lula Marques/Agência PT

Foto: Lula Marques/Agência PT

A divulgação da delação de Joesley Batista (dono da JBS) à PGR, feita em primeira mão pelo  colunista Lauro Jardim no site do jornal O Globo, estremeceu o país na noite do dia 17 de maio último, e se alastrou como um rastro de pólvora. O empresário trazia provas contundentes do envolvimento do presidente Temer e do senador Aécio Neves em episódios gravíssimos de corrupção.

Acreditou-se, naquele momento, que Temer não resistiria sequer até o início de junho, quando estava marcada a retomada do julgamento, pelos ministros do TSE, da ação em que o PSDB pedia a cassação da chapa Dilma-Temer (Temer chegou até o julgamento, e os juízes votaram contra a cassação).

Quanto a Aécio,  uma série de outras informações e gravações vieram à tona, descortinando para o grande público tramas passadas e presentes do senador. Ele já havia sido citado inúmeras vezes em depoimentos de diversos delatores da Operação Lava Jato, mas veio sempre contando com a  boa vontade do sistema de Justiça; afinal, não é de hoje que denúncias ligadas a ele foram ignoradas seja em Minas, seja em Curitiba, seja no próprio Supremo.

As proezas do neto de Tancredo não eram desconhecidas da imprensa nem de parte da sociedade, através de denúncias que não alcançavam eco nem conseguiam emplacar. Em Minas (mas não apenas) sabia-se dos desvios de dinheiro da Saúde, das denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro na estatal de energia Furnas, do esquema bilionário do nióbio de Araxá, além de outros casos mais conhecidos, tais como o aeroporto de Cláudio.

A novidade não foi a revelação de seu envolvimento em inúmeros escândalos de corrupção, mas a divulgação ampla de provas incriminatórias – inclusive pela mídia hegemônica, que até então viera dando uma contribuição fundamental no esquema de blindagem (ou em uma divulgação em doses mínimas).

As delações de Joesley Batista, revelando os sucessivos pedidos de Aécio (além de sua molecagem, ao dizer que entrou com a ação no TSE pela impugnação da vitória de Dilma, em 2014, “pra encher o saco”); as gravações de conversa com o juiz do STF Gilmar Mendes; com o senador Perrela (PMDB Minas), não deixaram dúvidas até mesmo junto aos últimos relutantes (naqueles que diziam – “não tenho culpa…”). A máscara do arauto da luta contra a corrupção caiu, e caiu feio.

Não se pode dizer a seu respeito, no entanto, ou pelo menos por enquanto, que agora “a casa caiu”. O STF determinou afastamento de suas funções legislativas em 18 de maio; esta determinação apenas começou a ser cumprida no dia 14 de junho, após denúncias de que seu gabinete continuava funcionando e Aécio continuava em suas negociações políticas. Agora seu nome foi excluído do painel do Senado, e o senador deixa de receber parte de seu salário. Há dúvidas quanto ao alcance da punição.

A própria decisão do PSDB, no dia 12 de junho, de permanecer no governo, está ancorada, entre outros interesses, no de preservação mútua das partes contra as denúncias, bem como no estancamento da Lava Jato.

O acontecimento “gravação” trouxe perdas talvez irreparáveis na imagem pública e na carreira do ex-candidato. E uma grande derrota para os Neves, com a prisão de Andrea (a de Aécio continua sendo adiada). Mas, entre idas e vindas, não descortinou mudanças de fato significativas no quadro político que se instalou no pós-golpe, nem no esquema de dominação que impera em Brasília e dentro dos três poderes.

Vera França
Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG
Coordenadora do GrisLab



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