Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.

Conheça a proposta

Caetano Veloso

Acontecimentos: o que marca sua aparição pública?

  • Em 1967, lidera o movimento de vanguarda conhecido como Tropicalismo, que renovou o cenário musical brasileiro e os modos de se apresentar e criar música no país.
  • Em 1968, lança “Tropicália ou Panis et Circensis”, disco-manifesto do Tropicalismo, marco para o movimento. Vestindo uma roupa de plástico, apresenta no Festival da Canção em São Paulo a música “É Proibido Proibir”. Caetano foi vaiado pelo público e improvisou um discurso contra o conformismo da juventude, disparando a emblemática frase: “Vocês não estão entendendo nada.” A música foi desclassificada do festival.
  • Em 1968, Caetano e Gil são presos pelo regime militar. Em 1969, partem juntos para o exílio em Londres. De lá, lança discos e envia artigos para “O Pasquim” e canções para Gal e Bethânia. 
  • Em 1986, ao lado de Chico Buarque, apresentou na televisão, o programa “Chico & Caetano”, onde cantava e recebia convidados.
  • Em 1992, Caetano completou 50 anos e comemorou com o lançamento do álbum Circulandô, que recebeu o Prêmio Sharp de melhor canção, intérprete e projeto visual.
  • Em 2003, torna-se o primeiro brasileiro a cantar na cerimônia do Oscar, interpretando a canção Burn It Blue, gravada com a cantora mexicana Lila Downs para o filme Frida.
  • Em 2001, participa do filme Fale Com Ela, de Pedro Almodóvar, cantando a música Cucurrucucu Paloma.
  • Em 2015, a turnê “Dois Amigos, um Século de Música” comemorou os 50 anos de carreira de Gil e Caetano.  Em 2016, o álbum da turnê, com o mesmo nome, ganhou o 27º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Álbum de MPB;
  • Em 2018, lança o álbum Ofertório em parceria com os filhos Moreno, Zeca e Tom, considerado um dos melhores do ano pela crítica.
  • Em 2020, lança o livro Narciso em Férias, em que relata detalhes sobre a sua prisão pelo regime militar. A obra se tornou um documentário lançado pela GloboPlay.

 

Públicos e valores evocados

Caetano atinge um público amplo e diversificado, de diferentes idades e classes sociais. Essa amplitude de públicos pode ser entendida em função de sua vasta trilha sonora em novelas brasileiras. Uma parte desse público se identifica também com seus posicionamentos políticos.  

Ao longo de sua carreira, os valores evocados por Caetano envolvem sua produção artística e posicionamento político. Do enfrentamento ao regime militar às atuais críticas ao presidente Bolsonaro e seus filhos, a imagem de Caetano esteve e permanece ligada a valores de rebeldia, diversidade cultural e liberdade. Engajado com causas ambientais, é um dos ativistas do movimento 342 Amazônia, em parceria com Greenpeace Brasil e Mídia Ninja.

Por seu estilo irreverente na juventude, em que usava saias, roupas extravagantes e coloridas, Caetano não performava uma masculinidade viril e, por isso, também evoca valores de liberdade sexual e de gênero, o que aparece em suas canções e posicionamentos a favor das causas LGBTQIA+. Apesar de se declarar ateu, faz referências constantes em suas canções ao candomblé, às raízes africanas da Bahia e à sua identificação com Santo Amaro, Salvador e todo o Recôncavo baiano.

Em suas redes sociais, se posiciona com frequência contra o racismo, se envolvendo em campanhas como as que pediam a liberdade de Gustavo Nobre, jovem negro preso injustamente, e as que cobram investigações sobre o caso Marielle Franco. Nas eleições de 2020, fez campanha para Boulos e Manuela D’Ávila em seus perfis sociais. 

Atualmente, Caetano utiliza suas redes sociais para defender a ciência e as vacinas, para divulgar campanhas de solidariedade a artistas da música durante a pandemia e para divulgar seu trabalho mais recente, a música Anjos Tronchos, em que questiona o poder dos algoritmos e da tecnologia. Aos 79 anos, não esconde as marcas da idade e, em suas redes sociais, posta constantemente fotos e vídeos da mocidade. 

 

Interrogações: 

Caetano se envolveu em diversas polêmicas a respeito de biografias não autorizadas. É um dos líderes da Associação Procure Saber, presidida por Paula Lavigne, que se opõe à publicação de biografias sem autorização. Vários artistas se opõem ao Procure Saber e às declarações de Caetano e Paula sobre as biografias, como Roberto Carlos, que deixou a associação depois de desentendimentos. 

Chamado de “pseudo-intelectual” por alguns críticos, Caetano também se desentendeu muitas vezes com jornalistas e veículos da imprensa. Em 2004, declarou em um debate da FLIP que era contra a política de cotas. Em 2006, foi um dos artistas que assinou um manifesto enviado para o Senado e Câmara contra o projeto de lei que instituiu a política de cotas nas universidades federais e a reserva de vagas para negros no ensino superior e no serviço público. No entanto, em 2018, em sua conta do Instagram, Caetano divulgou a música “Cota não é esmola”, de Bia Ferreira, e apareceu cantando esse trecho da música em um vídeo com a cantora em sua casa. Por seu posicionamento progressista, Caetano é questionado por uma falta de alinhamento partidário. 

Em 2017, Caetano moveu uma ação contra o deputado federal Marco Feliciano após ele ter declarado em suas redes sociais que o Ministério Público deveria pedir a prisão de Caetano por crime de estupro contra Paula Lavigne, compartilhando uma manchete sobre o caso. A queixa-crime de difamação e injúria foi julgada improcedente em 2021, e Cateano terá que pagar R$ 6 mil reais ao deputado. Também por declarações que o acusavam de pedofilia, Caetano move ações contra Olavo de Carvalho, que já deve ao cantor cerca de R$ 3 milhões em multas por não ter apagado as publicações. 

 

Campo de exposição: onde Caetano Veloso é acessado?

Seu trabalho artístico é acessado em shows e festivais, plataformas de músicas, redes sociais e em trilhas sonoras para TV e cinema. Caetano aparece em seis filmes brasileiros e foi diretor do documentário “O Cinema Falado” (1986). Ele também pode ser acessado em livros: ao todo, escreveu sete livros e foi biografado em outras quatro obras. 

Nas redes sociais, Caetano é seguido por 2,2 milhões de pessoas no Facebook, 2,1 milhões no Instagram, 830 mil em seu canal no Youtube e  997 mil pessoas no Twitter. 

Dados coletados em 24/09/2021.

 

Raíra Saloméa Nascimento, mestranda do PPGCOM-UFMG e pesquisadora do Gris.

Biografia

Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso nasceu em 7 de agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação, pequena cidade do Recôncavo Baiano, próxima a Salvador. É o quinto dos sete filhos de José Telles Velloso, funcionário público dos Correios, e de Claudionor Vianna Telles Velloso, a Dona Canô. Iniciou sua carreira escrevendo críticas de cinema para o "Diário de Notícias" e cantando com a irmã mais nova, Maria Bethânia, em bares de Salvador.


Em 1963, ingressa na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e conhece seu ídolo Gilberto Gil, iniciando uma longa e conhecida amizade. Em 1964, faz seu primeiro grande show, "Nós, Por Exemplo", já ao lado de Gil, Bethânia, Gal Costa e Tom Zé. Com eles, se muda para o Rio de Janeiro no ano seguinte e abandona a faculdade de Filosofia. No mesmo ano, lança seu primeiro disco compacto, passando a se apresentar nos principais festivais musicais do país.


Em 1967, ano de lançamento do movimento cultural Tropicália e de seu primeiro disco, Domingo, outro evento também repercutiu na mídia: seu casamento com a baiana Dedé Gadelha (que usou capuz e minissaia na cerimônia). Tiveram juntos um filho, Moreno Veloso (1972).


Caetano é preso em dezembro de 1968, junto a Gil, ambos acusados de ofensa ao hino e à bandeira nacional pelo regime militar. São soltos após dois meses, na quarta-feira de cinzas, em fevereiro de 1969, e ficam em confinamento em Salvador até partirem para o exílio em julho do mesmo ano. Ao retornar ao Brasil em 1972, Caetano assume influências do reggae e da cultura hippie dos anos 1970; forma o grupo Doces Bárbaros, em 1975, junto com Gal, Gil e Bethânia. Nos anos 1980, produziu discos com influências do rock brasileiro e foi ator em dois filmes brasileiros, interpretando o cantor Lamartine Babo (em Tabu, 1982) e o poeta Gregório de Matos (em Os Sermões, em 1989).
Em 1986, após a separação da primeira esposa, casou-se com Paula Lavigne, um relacionamento conturbado que teve início quando a atriz carioca tinha apenas 13 anos e Caetano, 40. Com Paula, teve dois filhos: Zeca Lavigne Veloso (1992) e Tom Lavigne Veloso (1997), ambos músicos.


Em mais de 50 anos de carreira, Caetano venceu o Grammy Latino 12 vezes e 11 vezes o Prêmio da Música Brasileira. Gravou mais de 50 discos e é considerado internacionalmente um dos melhores compositores do século XX, comparado a Bob Dylan, Bob Marley, John Lennon e Paul McCartney. Foi eleito pela revista Rolling Stone o 4º maior artista da música brasileira de todos os tempos pelo conjunto da obra.