Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.
Campo de exposição: onde Elza Soares é acessada?
Desde o lançamento do álbum “A mulher do Fim do Mundo”, em 2015, as falas de Elza Soares ganharam um forte traço político de luta contra o racismo, machismo e homofobia, atraindo públicos não somente pela música, mas pelas bandeiras que a cantora levanta.
Elza vem usando ativamente as redes sociais para a divulgação de álbuns, shows e para se posicionar acerca de assuntos em debate. Apesar de não possuir o alcance estrondoso das blogueiras mais badaladas ou de outras celebridades mais populares, a cantora conta com 373 mil seguidores no Instagram, 308 mil curtidas no Facebook, 76 mil inscritos em seu canal no Youtube, além de 566 mil ouvintes mensais no Spotify.
(Informações coletadas em 26/09/2019)
Acontecimentos
Em 1953, precisando de dinheiro para cuidar da saúde de um dos filhos, Elza Soares decide participar de um programa de calouros apresentado por Ary Barroso. Como lhe disseram para ir bonita, pegou um vestido emprestado com a mãe e ajustou atrás com alfinetes. Prendeu o cabelo de um lado e do outro, calçou uma sandália que ela chama de “mamãe tô na merda” e chegou ao palco. Ao ver a garota e seu figurino improvisado, a plateia caiu na gargalhada. Ary Barroso também riu e perguntou: “De que planeta você veio, minha filha?”. Elza Soares respondeu: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome”.
Ary engoliu seco pela primeira vez. A segunda viria em seguida. Ao ouvir a voz rouca de Elza interpretando a música “Lama”, o apresentador interrompeu a apresentação, declarou que o concurso estava encerrado, anunciou que o prêmio era de Elza e completou:“Senhoras e senhores, nesse exato momento acaba de nascer uma estrela”.
A profecia de Ary não foi tão certeira. Elza Soares voltou pra casa, usou o dinheiro para cuidar do filho e só voltou a cantar anos mais tarde.
Elza Soares e Mané Garrincha, jogador de futebol da Seleção Brasileira, se conheceram em 1962. Na época, o jogador era endeusado pelo público por causa dos dribles desconcertantes que dava em campo, o que lhe rendeu o título de “anjo das pernas tortas”. Elza Soares, por outro lado, ainda não era tão reconhecida socialmente no Brasil, apesar de já viver da música e fazer shows com altos cachês fora do país. Elza e garrincha se apaixonaram e começaram o romance enquanto o jogador ainda era casado. O romance tematizou desde as matérias dos jornais da época até as conversas nas mesas de bar. Elza foi tachada de aproveitadora e vadia.
Após um ano juntos, a cantora intimou Garrincha: se ele não a assumisse, ela o deixaria. Dito e feito. Deixou o jogador e, em 1963, como resposta às críticas que recebia, lançou a música “Eu sou a outra”, do compositor Ricardo Galeno. Meses depois, Garrincha optou pelo desquite – única forma possível de separação na época – com sua atual esposa e voltou a procurar Elza. O casal reatou o romance sem revelar nada a imprensa. Em 1966, decidiram morar juntos e, poucos meses depois, oficializaram a união na embaixada da Bolívia. Elza e Garrincha viveram juntos por 16 anos e se divorciaram em 1983 devido ao alcoolismo do jogador e ao fato dele agredir a cantora e os filhos com frequência.
Após a morte de Garrincha, Elza Soares se afastou dos palcos por um tempo. Só voltou a aparecer na cena pública brasileira anos depois em uma parceria pontual com o cantor Caetano Veloso.
Com uma agenda de shows bastante reduzida, Elza começou a se apresentar fora do país. E foi aí que veio o reconhecimento internacional que lhe rendeu o título de “A Rainha do Samba”.
A revista Time Out disse que a cantora é “uma mistura explosiva de Tina Turner e Celia Cruz” e a BBC de Londres deu a Elza o prêmio de “Melhor cantora do milênio”.
Depois de anos seguindo uma rotina mais tranquila de shows e aparições midiáticas, Elza volta com força total. O disco “Mulher do fim do mundo”, lançado em 2015, anuncia uma nova era da cantora que passa a falar abertamente sobre racismo, violência doméstica e outras formas de machismo.
O clipe da música que carrega o mesmo nome do álbum já foi visto mais de 4 milhões de vezes no Youtube e partes da sua letra, como “Cadê meu celular? Eu vou ligar pro 180!” e “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, foram transformados em gritos de guerra em atos da luta feminista.
Depois desse disco a cantora já lançou mais dois trabalhos que seguem a mesma linha ativista, “Deus é mulher” e “Planeta fome”. Além disso, em 2018, o jornalista Zeca Camargo lançou o livro “Elza”, uma biografia que retrata pesquisas e conversas de Zeca e Elza em encontros no Rio de Janeiro. O livro trilha o caminho escolhido pela cantora de seguir “até o fim”- como ela diz em seus shows – contando e cantando a própria história.
Públicos e valores evocados
A Elza pós “Mulher do Fim do Mundo” tem atraído públicos para além dos interessados por sua qualidade vocal. Ela chama as minorias políticas para o diálogo ao levantar bandeiras contra o racismo, machismo e homofobia.
Se, por um lado, há quem associe a figura de Elza somente ao casamento com Garrincha ou aos vários procedimentos estéticos que ela já fez, e a reduza ao título de “responsável pelo fim da carreira e da vida do jogador” ou “a mulher que ficou feia por fazer plásticas demais”, por outro, há milhares de pessoas que se veem nas duras experiências que ela teve ao longo da vida e que vem trazendo à tona nos últimos anos.
Barbara Lima
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG