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Campo de exposição: onde Marielle Franco é acessada?
Em vida, Marielle não tinha muita visibilidade, ao menos na mídia nacional, embora já fosse uma ativista e vereadora reconhecida na cidade do Rio. Seu nome e sua atuação política ficaram conhecidos nacional e internacionalmente após a sua morte e a discussão social sobre as motivações políticas de seu assassinato.
Ao digitar “Marielle Franco” na ferramenta de busca de portais de notícias, dezenas e dezenas de páginas de resultados se abrirão. A falta de esclarecimento sobre seu assassinato, o andamento das investigações e as suspeitas de que elas estejam contaminadas por relações entre setores da polícia do Rio de Janeiro e milícias mantêm, com alguma frequência, o assunto e o nome de Marielle na pauta dos jornais, revistas e canais de televisão. Em 12 de março de 2020, às vésperas de completar dois anos do assassinato, foi lançada em TV aberta a série documental “Marielle – o documentário”, produzido pela Rede Globo de Televisão.
As redes sociais de Marielle são mantidas atualmente por sua família, principalmente o Instagram (@marielle_franco), hoje com 159 mil seguidores. O perfil da viúva de Marielle, a arquiteta Monica Benicio (@monicaterezabenicio) passou a ser bastante acompanhado após a morte da vereadora.
Informações sobre a atuação de Marielle são encontradas em seu site, que se propõe a manter viva sua memória e a combater boatos que maculam sua história e imagem. Após sua morte, a família criou o Instituto Marielle Franco com o objetivo de buscar justiça ao crime cometido e também preservar sua memória e seu legado.
(Acesso em 21 de abril de 2020)
Acontecimentos: o que marcou sua aparição pública?
Como Marielle Franco era uma vereadora do Rio de Janeiro, militante e ativista de alguns movimentos sociais, suas ações e visibilidade ficavam geralmente mais restritas às comunidades e movimentos nos quais atuava, à cidade e ao estado do Rio. Seu nome e a trajetória de atuação ganham ampla visibilidade justamente a partir de seu assassinato, em 14 de março de 2018. É esse acontecimento e seus desdobramentos que evocam outros acontecimentos e ações passadas de Marielle Franco, trazendo-as ao conhecimento de públicos mais amplos e mantendo-as vivas na memória coletiva. São evocados principalmente os seguintes:
Públicos e valores evocados por Marielle
O assassinato de Marielle Franco provocou grande comoção nas redes sociais e muitos protestos contra o seu assassinato e de seu motorista. Houve manifestação em mais de 160 cidades do Brasil. Em 15 países de três continentes, manifestantes acenderam velas e luzes em sinal de luto pela morte de Marielle e Anderson.
Tanto a morte quanto a atuação de Marielle em vida provocaram (e ainda provocam) reações opostas por parte de públicos com posições e valores distintos, principalmente no tocante a suas ações em defesa dos direitos humanos.
No período que se seguiu ao assassinato, tanto houve pessoas lamentando sua morte e pedindo justiça, quanto a disseminação de fake news sobre sua trajetória política e pessoal. Sua morte foi mais um acontecimento a explicitar a polarização político-ideológica que divide o país. De um lado, militantes de esquerda, ativistas de movimentos sociais e minorias sociais, de luto por Marielle. De outro, frentes conservadoras, partidos e movimentos reacionários, geralmente se autodenominando “defensores de direitos humanos para humanos direitos”, minimizando as causas políticas do assassinato, ligando a vereadora ao crime organizado, deturpando sua atuação ou tentando culpabilizá-la por sua própria morte.
Quem era crítico de Marielle dizia que “não lamentaria a morte de quem defende bandido”. Já os apoiadores associam seu nome e sua atuação a uma “semente”, de cuja inspiração brotarão outras iniciativas em defesa de direitos. A figura interseccional de Marielle gera grande identificação por ser mulher, negra e LGBT, grupos historicamente marginalizados. No Brasil e mesmo em outros países, Marielle virou símbolo da esquerda e de uma agenda progressista, comprometida com questões de gênero, raça e classe. Sua trajetória política mostrava-se pautada em valores como justiça, igualdade, respeito, solidariedade, não-violência, defesa de direitos e da vida, que impulsionam as ações dos que hoje defendem sua trajetória e sua memória.
Kauane Lahr, estudante de Graduação em Jornalismo pela UFSC, bolsista de Iniciação Científica – Propesq/UFSC/CNPq
Terezinha Silva, professora do Departamento de Jornalismo da UFSC