Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.

Conheça a proposta

Martha Rocha

Campo de exposição:

O apogeu de Martha é anterior às redes sociais, e foi personagem da imprensa da época, sobretudo das duas grandes revistas semanais, O Cruzeiro e Manchete. Também sua morte foi registrada pelos principais jornais e portais do país.

Martha Rocha chegou a criar um perfil no Facebook, porém postava pouco e não chegou a ser muito acessado.

 

Acontecimentos

– Eleição para Miss Brasil em 1954 e segundo lugar no concurso de Miss Universo

– Casamento com o milionário português Álvaro Piano, que faleceu alguns anos depois em desastre de avião;

– Casamento com o empresário e playboy carioca Ronaldo Xavier de Lima, com quem teve uma filha. Crises no casamento e depois a separação foram alvo de coberturas da imprensa;

– Presença em vários concursos de Miss Brasil, como uma espécie de “madrinha” das misses;

– Morte em 2020.

 

Públicos e valores

Martha Rocha hoje já não é conhecida pelas novas gerações, porém foi uma celebridade dos anos 1950 até por volta de 1980, acompanhada pelo público leitor de colunas sociais e apreciadores dos concursos de Miss. Lembrada no momento de sua morte por saudosistas, Martha foi reverenciada por jornalistas que a conheceram no momento de seu apogeu, bem como por outras Misses Brasil. 

Foi símbolo de beleza e construída como padrão de uma idealizada beleza brasileira, que preserva traços europeus: pele branca-dourada (amorenada), olhos claros, corpo escultural. Assim, a beleza e a vaidade foram os valores que mais se destacaram em sua trajetória. 

Embora cobrasse cachê em suas apresentações, e vendesse alguns quadros que pintava, não se pode dizer que desenvolveu uma carreira profissional. No depoimento de um de seus filhos, em vários momentos teria sido convidada para ser atriz, cantora, mas – conforme ele disse – soube “preservar seu lado de mãe e esposa”. Ou seja, manteve-se como uma mulher do lar.

 Assim, Martha foi o protótipo da mulher de uma sociedade patriarcal, voltada para o casamento e cumprindo a função de exibição. Uma mulher para quem a beleza é fundamental e suficiente.  

 

Ponto de interrogação

Martha sem dúvida foi uma mulher muito bonita. Mas teria sido também o símbolo de uma “mistura bem-sucedida” de raça? Do êxito do “processo de branqueamento”?

Os concursos de Miss ainda existem, mas estão longe do prestígio e papel que já tiveram. Seria possível uma Martha de nossos dias? Da beleza como meio de sobrevivência? Ou seu final de vida melancólico revela exatamente a natureza precária desse modelo?

 

Vera Regina Veiga França, professora titular de Comunicação Social da UFMG e coordenadora do GrisLab

Biografia

Martha Rocha, ou Maria Martha Hacker Rocha nasceu em Salvador, Bahia, em 1936, filha de mãe paranaense e pai baiano. Em 1954, com 18 anos, foi eleita Miss Bahia e em seguida Miss Brasil. Apareceu como uma das favoritas no concurso de Miss Universo (Califórnia, EUA), no mesmo ano, e foi classificada em segundo lugar. Durante várias décadas foi considerada símbolo de beleza, “namorada do Brasil” e a “eterna Miss Brasil”.

Casou-se pela primeira vez com um banqueiro português, com quem teve dois filhos. Viúva com 23 anos, casou-se novamente em 1961 com um empresário carioca, num casamento oficiado por Dom Hélder Câmara e fartamente coberto pela imprensa da época. Do segundo casamento teve uma filha.

Martha Rocha fez parte de júris de concursos de beleza, era figura de destaque nos carnavais cariocas e presença frequente em colunas sociais. Em 1995, relata que perdeu todo o seu dinheiro por um golpe de um irmão de seu primeiro marido. A partir daí, passou a depender da pensão dos dois filhos mais velhos; enfrentou um câncer e teve um final de vida pouco glamoroso, em um lar de idosos, onde faleceu em 2020.

No Brasil traumatizado de 1954, com o suicídio de Vargas e a derrota na Copa do Mundo de futebol, o desempenho de Martha no Miss Universo foi vivido como um alento – teria sido o segundo lugar mais celebrado de nossa história.

Mistura de um baiano e uma descendente de alemães, Martha era uma morena de cabelos claros, grandes olhos verdes e um largo sorriso. Alta, bem feita de corpo (na época circulou a história de que teria perdido o Miss Universo por duas polegadas a mais de quadril – o que, no entanto, parece ter sido invenção de um jornalista), tornou-se símbolo de beleza, e seu nome passou a ser usado como qualificativo de coisas bonitas e de algo com sabor nacional – como a torta Marta Rocha, o caminhão Chevrolet 3500 e a camionete Chevrolet 3100, apelidados de caminhão e caminhonete Marta Rocha, os camarões à Marta Rocha. Martha foi tema inclusive de marchinha de carnaval.