Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.

Conheça a proposta

Djamila Ribeiro

Campo de exposição

O principal campo de exposição de Djamila Ribeiro são o Instagram, que conta com 935 mil inscritos, o Facebook com 225.741 seguidores, e sua coluna na Folha de São Paulo, publicada todas as sextas-feiras. Nesses espaços, com um posicionamento didático, ela fala sobre temas relacionados às relações raciais, desigualdades e questões sociais.

Em uma recente empreitada, Djamila lançou a Plataforma Feminismos Plurais, um espaço virtual de ensino de temas críticos e fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira. Nas redes sociais ligadas à plataforma, a filósofa também interage com seu público, que já conta com os seguintes números: nos canais no Telegram, 9.503 inscritos e no Youtube 11.400 inscritos.

(Acesso em 07 de julho de 2020)

 

Acontecimentos: momentos marcantes e controversos 

  • O estabelecimento da vida pública e política

Em 2014, sua participação no programa Na Moral, comandado por Pedro Bial, constituiu o pontapé inicial para o estabelecimento de sua vida pública e política. Em 2016, escreveu o prefácio do livro “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis, e foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, na gestão Haddad. Desse ponto em diante, tornou-se figura constante na mídia tradicional e nas mídias sociais.

  • A Coleção Feminismos Plurais

Em 2017, lançou a Coleção Feminismos Plurais, que se destina à disseminação de conteúdo crítico produzido por pessoas negras, sobretudo mulheres, a preço acessível e linguagem didática; cujo primeiro livro, “O que é lugar de Fala?”, entrou para a lista de best-sellers da 16ª Flip de Paraty. Em 2020, Djamila transformou a coleção em uma plataforma de ensino virtual e convidou os autores dos livros para comandar os cursos.

  • Os primeiros reconhecimentos internacionais

Em 2018, Djamila foi indicada pela ONU como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo de 40 anos. Em 2019 foi escolhida pelo governo da França como “Personalidade do Amanhã”, projeto que seleciona uma pessoa por país por sua projeção atual e potencial impacto no futuro.

  • As polêmicas públicas

 Djamila x Waters 

Em 2018, foi muito criticada por internautas após se manifestar sobre a polêmica envolvendo Milton Nascimento e Roger Waters. Esse pediu para que o brasileiro cancelasse seu show em Israel, por conta das violações de direitos humanos cometidas pelo país. Djamila, que se posicionou contra a violência de Israel, questionou a falta de coerência de Waters, uma vez que o mesmo havia feito show no Maracanã, que está localizado em um estado em que há favelas militarizadas e a população negra morre cotidianamente vítima de uma polícia assassina. Na ocasião, os internautas acusaram-na de ser pró-Israel. 

Djamila x Andreza

A militante Andreza Delgado discordou do posicionamento político de Djamila Ribeiro sobre a condenação do humorista Danilo Gentilli. Djamila concordou com a condenação e Andreza  foi contra,  com argumentos em torno do punitivismo e do anti punitivismo.

A polêmica continuou nos dias seguintes, nas redes sociais, e Djamila atribuiu os ataques que vinha recebendo a mulheres negras de pele clara e notificou extrajudicialmente Andreza. As redes se dividiram entre detratores e defensores de cada uma.

 

Públicos e valores evocados por Djamila Ribeiro

Djamila faz um trabalho de autovalorização produtiva da sua identidade subalternizada, a partir do mercado editorial e da atuação como articulista. Suas reflexões expõem a estrutura de desigualdades cujo eixo principal é a construção do outro sob uma dinâmica epistemicida. Nesse sentido, tanto Djamila quanto sua produção evocam novos olhares sobre os sujeitos negros e seu potencial intelectual.

Djamila têm um público muito plural, pessoas interessadas em aprender sobre o racismo ou sobre questões raciais múltiplas. Membros da classe artística  fazem parte desse público, e ela, inclusive, se reúne com atores globais quinzenalmente para lhes ensinar sobre racismo e sexismo.

Sua postura, por seu turno, suscita críticas intra movimentos negros, sobre até que ponto o didatismo não se transforma em obrigação e, portanto, um novo modo de servidão. As críticas, entretanto, não modificam o posicionamento da intelectual, que  tem como valor principal o protagonismo negro na produção e transmissão de conhecimento e cultura.

 

Pâmela Guimarães-Silva, doutoranda em Comunicação Social na UFMG

Biografia

Djamila Taís Ribeiro dos Santos nasceu em Santos (SP), em 01 de agosto de 1980. Seu nome significa “beleza”, em swahili (língua do leste da África), e foi uma escolha de seu pai, Joaquim José Ribeiro dos Santos, um estivador, militante e um dos criadores do Partido Comunista em Santos.

 A filósofa, feminista negra e escritora, começou sua vida profissional em uma vaga de auxiliar de serviços gerais — embora já estivesse cursando jornalismo na Universidade Santa Cecília e fosse fluente em inglês. Exerceu tal função escondida de seu pai, posto que esse dedicava sua vida para que seus quatro filhos — duas meninas e dois meninos — pudessem se dedicar aos estudos.

 Após sua mãe, dona Erani, falecer vitimada por câncer, Djamila pediu demissão. Segundo ela, o ato foi uma homenagem à vida da mãe, ex-empregada doméstica. Joaquim adoeceu no ano seguinte e, enquanto cuidava do pai no hospital, conheceu a Casa de Cultura da Mulher Negra, na qual, meses depois, teve a primeira oportunidade que valorizava sua formação. O pai faleceu e foi na Casa de Cultura que ela viveu seu luto.

 A infância de Djamila foi marcada por muito estudo, uma exigência dos pais, e, na biblioteca da Casa de Cultura, onde trabalhou por quatro anos, ela pode redescobrir essa sua força: o interesse pela literatura. Ao sair desse emprego, saiu também da faculdade de jornalismo. Aos 24 anos engravidou de sua única filha, Thulane, e com a gestação veio a restrição do uso de cosméticos capilares. Foi então que assumiu os seus cabelos crespos.

 Alguns anos depois, com um emprego fixo na zona portuária de Santos, Djamila ingressou na faculdade de filosofia da Universidade Federal de São Paulo, em Guarulhos. As três horas de trajeto que separavam as duas partes importantes de sua vida, fizeram-na desistir do emprego e se dedicar aos estudos. 

 No segundo ano do curso, começou a lecionar filosofia nas escolas públicas de São Paulo e, assim, conseguiu custear seus estudos. Na mesma época, em conjunto com alguns colegas, criou o Mapô, núcleo interdisciplinar de estudos em raça, gênero e sexualidade da Unifesp. O grupo ajudou Djamila a aprofundar nas obras de feministas negras, que havia conhecido na Casa de Cultura da Mulher Negra.

 Em 2013 ingressou no mestrado em Filosofia Política, na mesma universidade de sua graduação, e passou a escrever para o Blogueiras Negras. Em 2014 começou na revista CartaCapital, onde se tornou colunista no ano seguinte. Em 2016, tornou-se secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.

 Nos anos seguintes, sua atuação foi muito premiada e suas palavras ganharam o mundo: além das colunas de jornais e revistas, escreveu o prefácio do livro "Mulheres, raça e classe", de Angela Davis, criou e coordena a coleção Feminismos Plurais, e é autora de O que é lugar de fala (2017), Quem tem medo do feminismo negro? (2018) e Pequeno Manual Antirracista (2019). Criou também o selo literário Sueli Carneiro.