Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.
Onde João Gilberto é acessado?
João Gilberto ascendeu e se consolidou na fama através da carreira artística como compositor e intérprete, sobretudo via indústria fonográfica: desde o vinil 78 RPM até a internet – o site oficial do álbum no You Tube traz mais de três milhões de visualizações para 32 mil pessoas inscritas em seu canal oficial que, no conjunto já teve mais de 7 milhões de visualizações. No Spotify, o artista tem mais de um milhão e seiscentos mil ouvintes mensais. Na conta oficial do Instagram, são 5.684 seguidores. Seu site oficial é http://www.showbras.com.br/joaogilberto/
(Dados coletados em 31/07/2019)
Acontecimentos
Ao longo de sua vida, João Gilberto se relacionou com várias figuras públicas brasileiras e internacionais, como as cantoras Sylvinha Telles; Marisa Gata Mansa; Astrud Gilberto (com quem se casou em 1959 e teve um filho, João Marcelo, no ano seguinte, separando-se em 1963); Miúcha (Heloísa Maria Buarque de Hollanda), com quem se casou em 1965 e também teve uma filha, Bebel Gilberto, no ano seguinte. Posteriormente, João Gilberto também teve um relacionamento com Cláudia Faissol, sua empresária, com quem teve também outra filha, Luísa Carolina. Essas relações, especialmente os casamentos, foram altamente publicizados, não só pela condição artística das envolvidas, como, também no caso de Cláudia, por polêmicas e disputas envolvendo o filho João Marcelo, o qual também se indispôs com Bebel Gilberto. A modelo moçambicana Maria do Céu Harris também alega união estável com o cantor desde os anos 1980 e, no início de 2019, esteve no centro de uma disputa em torno da curatela do cantor com a filha Bebel Gilberto. Com a morte do cantor, o Globo noticia que as movimentações jurídicas em torno do espólio do artista começaram no dia do seu velório. Bebel Gilberto e Maria do Céu entraram cada uma com pedidos de inventário em que ambas reclamam o direito de cuidar do processo.
Em 2009, o material das sessões gravadas na casa de Chico Pereira, fotógrafo da Odeon, foi publicamente disponibilizado na internet por um fã sueco com o trabalho de um engenheiro de som francês como os Chico Pereira tapes e causou o maior frisson precisamente por trazer, em performance ao vivo – e no início de sua “batida Bossa Nova” – João Gilberto no ano em que ganharia o mundo com seus lançamentos oficiais; inclusive interpretando canções que nunca seriam lançadas e em meio a breves conversas informais sobre a interpretação. Tal material pode ser ouvido no YouTube (acesso em 31 de julho de 2019)
Com o lançamento do álbum Chega de saudade em 1959 consagra-se o estilo de João e sua “batida da Bossa Nova” que pode ser como a descrita por Ruy Castro em Chega de saudade – a história e as histórias da Bossa Nova (São Paulo, Companhia das Letras, 1990): “descobriu que a acústica do banheiro era ideal para ouvir a si próprio e ao violão (…) as cordas reverberavam e ele podia medir sua intensidade. Se cantasse mais baixo, sem vibrato, poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida fosse constante, criando assim seu próprio tempo. Para isto, teria de mudar a maneira de emitir, usando mais o nariz do que a boca (…) a batida sincopada de [Johnny] Alf ao piano e, principalmente, a de [João] Donato ao acordeão – como ficaria aquilo no violão? O novo João Gilberto estava nascendo daquelas experiências.” (Castro, 1990, p. 147). Além disso, não só a voz, como de praxe, mas também o violão, teriam de receber exímio tratamento de microfonia para a performance ao vivo e em estúdio.
Nessa data, 3 mil pessoas compareceram ao concerto no Carnegie Hall, espaço alugado pelo presidente e fundador da Audio Fidelity Records, Sidney Frey, para promover o novo ritmo brasileiro. No palco, Sérgio Mendes, Tom Jobim, Agostinho dos Santos, Elizeth Cardoso, Luiz Bonfá, Roberto Menescal e, claro, João Gilberto. Dentre a plateia, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Peggy Lee, Tony Bennett, dentre outros.
Produzido no ano anterior, ao lado da esposa e intérprete Astrud Gilberto, e dos músicos Stan Getz, Tom Jobim, Milton Banana e Tião Neto, sob engenharia de som de Phil Ramone para a gravadora Verve. Ficou na geladeira mais de um ano para esperar a avalanche de lançamentos de álbuns Bossa Nova nos EUA, incluindo os anteriores de Gilberto. Quando foi lançado ficou em segundo lugar da Billboard por quase cem semanas – o primeiro, claro, era dos Beatles. No ano seguinte fatura dois Grammy: Melhor gravação e Álbum do ano.
Então detentora dos títulos da Odeon, gravadora dos primeiros álbuns de João Gilberto, a EMI, hoje integrada à Universal Music lançou em 1987, sem autorização do artista, uma coletânea (um LP duplo e um CD simples) que reunia os três primeiros Lps e o EP de João, chamado de… O mito. Além da falta de autorização, a EMI, segundo João, mudou a ordem das faixas e interferiu na gravação original das canções, em que pese o reconhecimento da crítica internacional pelo trabalho. Em 1992, o artista entrou com uma ação contra a gravadora por danos morais e materiais, tendo perdido em primeira instância em 2007. O processo chegou no STJ e deu ganho de causa ao cantor em 2008 para os danos morais. Em 2013 uma decisão da 2ª Vara cívil do Rio obrigou a EMI a devolver as matrizes para o intérprete, mas decisão de segunda instância problematizou o fato do cantor não possuir condições de preservação das masters. Naquele ano, segundo o jornal O Globo (28/07/2019) “o banco Opportunity assinou um acordo com João — intermediado por Cláudia Faissol, na época companheira do músico — no qual receberia 60% da indenização. E em troca, deu naquele momento R$ 10 milhões ao artista em duas parcelas”. Agora em março de 2019 a decisão de pagamento foi confirmada – algo em torno de R$ 173 milhões, segundo perícia contratada. Mas a gravadora apresentou outra quantia, bem menor – 13 milhões – no dia 28 de julho de 2019, arrastando a polêmica para dentro do imbroglio da própria disputa familiar que permaneceu com a morte do músico.
Públicos e valores evocados
O principal público que se relaciona com João Gilberto, considerando sua trajetória célebre, é o melômano (que ou quem sente atração por música). Nacional e internacionalmente reconhecido como um dos fundadores da Bossa Nova na mesma proporção que também ganhava fama sua excentricidade como compositor. Nela, sua obsessão perfeccionista com a performance – tanto em estúdio como ao vivo – fazia paralelos com a genialidade e o talento incríveis do artista, gradativamente mais recluso. As polêmicas mais recentes em torno de sua obra também trazem à tona aspectos jurídicos ligados à dimensão dos direitos autorais e de família, sendo objeto de estudo e debate entre pessoas desse setor, além do público melômano habitual.
Nísio Teixeira
Professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG