Nosso Radar de Celebridades tem com objetivo identificar e apresentar um grande painel das celebridades de nosso tempo - figuras públicas brasileiras que têm alcançado destaque e adesão junto a públicos significativos.
Campo de exposição
Rita é acessada predominantemente pelo seu canal, Tempero Drag, que conta com 837 mil inscritos e publicações semanais de vídeos. Existem alguns quadros disponíveis no canal, como, por exemplo, o Especial Karl Marx e o Mulheres F*d@, que conta com a participação da assessora de Guilherme, Mair G, também produtora de conteúdo. O perfil no Instagram é da própria drag e possui 700 mil seguidores. No Twitter, o perfil é do programa (@temperodrag) e reúne 25,8 mil seguidores. Ela também atua como colunista da revista Carta Capital, onde publica um conteúdo a cada 15 dias. Além de palestras, debates e aulas, atualmente Rita participa de diversas lives com outros famosos e também é recebida como convidada em programas de televisão, como o Saia Justa, do canal GNT.
Dados coletados em 01/07/2021.
Acontecimentos
Valores e públicos evocados
Além do sarcasmo e do humor, Rita Von Hunty é conhecida por sua intelectualidade e didática para explicar temas e autores complexos, como, por exemplo, Karl Marx, que é chamado carinhosamente pela drag de Seu Carlinhos. Certamente, o desenvolvimento de Guilherme enquanto professor e pesquisador nutre a criação de sua persona e aumenta a credibilidade do discurso de Rita. Sempre que pode, o ator faz questão de enaltecer o papel da universidade, ressaltando não apenas autores (como Foucault, Adorno e Raymond Williams), como alguns professores da USP, considerados por ele bastante iluminados. Nota-se, portanto, que há uma vinculação entre Rita e um público mais formador de opinião, que valoriza o estudo, a ciência e as referências teóricas que sempre ponderam suas discussões.
Há também uma preponderância ideológica que marca a relação entre Rita e os públicos, uma vez que ela assume um posicionamento anticapitalista e marxista. Rita passou a ser chamada por alguns veículos de musa esquerdista e namoradinha comunista do Brasil. Além do apelo nitidamente político, como representante das drags brasileiras e ícone do universo LGBTQIA+, ela também mobiliza públicos que se formam em torno dos debates sobre gênero, sexualidade e diversidade.
Dessa forma, é possível perceber como a performance de Rita tem potencial para convocar públicos distintos; não apenas os que se vinculam às suas ideias e compartilham valores como conhecimento, respeito e ironia, como também aqueles que rejeitam as discussões propostas pela drag, muitas vezes sem nem saber ao certo sobre o que tratam. Às vezes, só o fato de ser uma drag queen famosa pode intimidar um público conservador e religioso que abomina a performance de gênero; outras vezes, é o discurso contra a direita e as estruturas sociais criadas pela elite que incita um público disposto a destilar ódio contra o que acreditam ser a personificação do comunismo.
Independente dos públicos mobilizados, os atributos que mais se destacam na figura de Rita são sua ousadia, seu humor ácido, sua inteligência e a habilidade de articular e democratizar temas dentro do contexto midiático atual.
Pontos de interrogação
Parte do movimento feminista – a corrente do feminismo radical – considera que o homem fantasiar-se de mulher no Carnaval seria ofensivo, assim também como as drags queens. Para esse grupo, as drags estariam fazendo troça do feminino e esculachando a feminilidade e, nesse sentido, Rita eventualmente sofre algumas críticas.
Para Guilherme*, “invalidar a drag na sua gênese, na sua ontologia, como um processo machista e misógino, seria como invalidar o cinema, a escultura, a pintura”, já que “quem estabelece o feminino e o masculino é a cultura”. Ele ressalta que “drag nunca foi sobre se vestir de mulher, mas sobre mostrar que gênero é uma construção social. Então, é um movimento disruptivo e um levante cultural […] não tem troça com o feminino, não tem piada sendo feita”
*Em entrevista para a revista Continente, em fevereiro de 2021.
Fernanda Medeiros, doutora em Comunicação pela UFMG, pesquisadora e professora da PUC Minas.