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Conheça a proposta

Ailton Krenak

Campo de Exposição

Ailton Krenak é acessado por meio de palestras, conferências, lives, debates, aulas e outras manifestações dentro e fora do Brasil. Seu perfil no Instagram tem 41,9 mil seguidores. Ele é convidado para programas de televisão, participou de documentários e diversos produtos audiovisuais, além dos próprios livros de sua autoria. É considerado um dos principais representantes da luta pelos povos indígenas da atualidade, respeitado por movimentos sociais e por intelectuais brasileiros, além de ser reconhecido por diversos prêmios e honrarias nacionais e internacionais.

Dados coletados em 02/07/2021.

 

Acontecimentos

  • Entre 16 e 30 de setembro de 1986, participou da Conferência dos Cidadãos, em Washington (Estados Unidos), representando a União das Nações Indígenas, abordando problemas ambientais frutos de projetos com financiamento do Banco Mundial e BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

 

  • Em 4 de setembro de 1987, protestou na Assembleia Nacional Constituinte, pintando o rosto de preto, que contrastava fortemente com o terno branco que vestia à ocasião, em pronunciamento no Congresso Nacional diante de representantes políticos, para denunciar que a população indígena, em vez de escutada, tinha suas demandas negligenciadas no debate que envolvia a nova constituição brasileira. O momento, captado por câmeras e que circula até hoje em diversos produtos midiáticos e plataformas (inclusive disponível no YouTube), tornou-se símbolo da luta dos povos indígenas no período de retomada democrática e gerou comoção junto à opinião pública à época. Sua atuação junto a Álvaro Tukano, Marcos Terena e Raoni Metuktire conferiu grande visibilidade à luta indígena, importante para os avanços quanto à demarcação de terras.

 

  • Em 1989, recebeu o Prêmio Letelier-Moffitt, prêmio internacional de Direitos Humanos para a América Latina, da Fundação Letelier, em Washington (EUA). À época, encontrou-se com Billy Taiak, liderança Hope do movimento indígena norte-americano.

 

  • Em 1990 foi homenageado com o prestigiado Prêmio Onassis “Homem e Sociedade”, da Fundação Aristóteles Onassis, em Atenas, capital da Grécia.

 

  • Em 2005 recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos.

 

  • Em 20 de dezembro de 2008, ganhou das mãos da então senadora Marina Silva e de Ângela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes e filha do ambientalista, o Prêmio Chico Mendes de Florestania – Edição Especial 20 Anos.

 

  • Em 7 de outubro de 2008 recebeu a condecoração da Ordem do Mérito Cultural 2008, do Ministério da Cultura, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

 

  • Em junho de 2012, foi presença importante em vários dos eventos que fizeram parte da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro, conhecida também como Rio+20, dividindo espaços com personalidades nacionais e internacionais.

 

  • Em 18 de fevereiro de 2016, recebeu o título de professor Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), honraria solicitada pelo Departamento de Botânica e aprovada pelo Conselho Superior (Consu) da universidade.

 

  • Em 04 dezembro de 2020 ganhou o Prêmio Juca Pato de “Intelectual do ano”, prêmio literário brasileiro concedido pela União Brasileira de Escritores.

 

  • Em abril de 2021, o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, que já tinha sido traduzido para inglês e francês, foi lançado na Alemanha.

 

Públicos/Valores

Ailton Krenak é considerado um importante pensador contemporâneo brasileiro, lido por acadêmicos, intelectuais, respeitado por diversos movimentos sociais. É uma importante referência bibliográfica e de reflexões atuais sobre a oralidade como expressão da literatura.

Ao mesmo tempo em que provoca a sociedade brasileira a rever seus parâmetros econômicos, culturais e políticos, expondo a finitude de nossos recursos e a exacerbada instrumentalização da vida e da nossa existência em relação à natureza, dialoga, em suas falas direcionadas à academia, com autores como George Orwell, Zygmunt Bauman e Michel Foucault. Portanto, diante de um diálogo que desconstrói perspectivas consolidadas e de uma boa leitura de autores considerados canônicos, consegue fazer circular sua filosofia com uma força que poucos pensadores de povos tradicionais conseguem ter.

 

Ponto de interrogação

No início da década de 90 houve uma polêmica  envolvendo Ailton Krenak em que entidades indígenas teriam questionado sua legitimidade como representante dos povos originários. Em contrapartida, personalidades e entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a ONG norte-americana Rainforest Action Network (RAN) saíram em defesa dele.

 

Tamires Coêlho, professora do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT, doutora em Comunicação pela UFMG e jornalista.

Biografia

Ailton Alves Lacerda Krenak é líder indígena, filósofo, jornalista, escritor, poeta e ativista do meio ambiente cuja projeção midiática em âmbito nacional já soma mais de três décadas. Nasceu em 1953, em Itabirinha de Mantena-MG, na região do Vale do Rio Doce, já próximo à divisa com o Espírito Santo.

Devido à concentração e restrição de diversos grupos do povo Krenak numa reserva em 1922, considera-se “filho da geração dos Krenak do cativeiro”. Ainda adolescente, saiu de Minas Gerais com a família para São Paulo, uma espécie de “exílio” vivida por boa parte dos Krenak. Foi alfabetizado aos 18 anos. Em território paulista, produziu o Jornal Indígena, um tabloide que reunia textos de diversas lideranças indígenas, precursor do “Programa de Índio”, programa na Rádio USP no mesmo formato. Trabalhou também na Editora Abril, quando começou a se aproximar da experiência de ser escritor. Seus primeiros artigos foram publicados em coletâneas de cultura, história e sobre direitos indígenas.

Em 1985 fundou a organização não-governamental Núcleo de Cultura Indígena (NCI). Participou da fundação da União das Nações Indígenas (UNI), da Aliança dos Povos da Floresta, com Chico Mendes, renomado ambientalista brasileiro. Mesmo com uma extensa trajetória política, nunca se filiou a partidos.

Krenak protestou em 1987, na Assembleia Nacional Constituinte, durante o processo de concepção da Constituição de 1988, em frente aos representantes políticos, em defesa da Emenda Popular da União das Nações Indígenas. Ele pintou o rosto com tinta preta de jenipapo, como um gesto de luto pela população indígena diante dos retrocessos e ataques aos seus direitos e de seus parentes.

Voltou para a região do Rio Doce em 1997, para lutar contra a exploração do rio em usinas hidrelétricas. Logo depois, criou o Festival de Danças e Culturas Indígenas, na Serra do Cipó. Em 1998 apresentou, como jornalista, a série “Índios no Brasil” (TV Escola, 1998) e, posteriormente, a série “Tarú Andé (TV Canal Futura, 2007).

Em 2003 iniciou sua trajetória como assessor de Assuntos Indígenas do Governo do Estado de Minas Gerais, para gerar políticas públicas direcionadas a cerca de 11 mil indígenas de oito povos. 

Sua participação junto ao movimento ambientalista mineiro ajudou na proteção da Serra do Cipó. Krenak foi coautor da proposta para fundar a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em 2005, quando parte dela foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como área cuja conservação é prioritária. 

Ailton Krenak se considera um sujeito coletivo com uma experiência multiétnica, devido ao contato com outras etnias, seguindo a trilha de pensadores como Davi Kopenawa, liderança Yanomami. 

Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais em sua trajetória e passou a colaborar junto à Universidade Federal de Juiz de Fora no ano de 2014 junto ao Curso de Especialização “Cultura e História dos Povos Indígenas” e a disciplina “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”. A instituição acadêmica conferiria a ele, dois anos depois, o título de Doutor Honoris Causa.

Em 15 de agosto de 2018, o líder indígena e sua esposa, Irani Krenak, perderam seu filho mais velho, Krembá Krenak, que faleceu aos 17 anos em um acidente de motocicleta, em Minas Gerais.

Ailton Krenak é autor dos livros “O lugar onde a Terra descansa” (2000), “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), “O amanhã não está à venda” (2020) e “A vida não é útil” (2020).