O retorno do réu midiático: a prisão de José Dirceu
Na 17ª fase da operação Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu foi preso sob a acusação de liderar o sistema de lavagem de dinheiro na Petrobras. Em mais uma operação midiática da Polícia Federal, Dirceu retorna ao posto de protagonista. Antes de ser um réu da justiça, tornou-se um réu midiático. Prendê-lo pareceu o clímax de um filme que levaria ao final feliz de mais uma trama policial midiática.
Cobertura ao vivo, com direito a imagens aéreas, marca a nova prisão de José Dirceu. Na 17ª fase da operação Lava Jato, o ex-ministro foi preso sob a acusação de liderar o sistema de lavagem de dinheiro na Petrobras. Em mais uma operação midiática da Polícia Federal, Dirceu retorna ao posto de protagonista. Não somente seu nome era ansiosamente esperado a cada delação, como a mídia o associa a diversos outros personagens. Assim, são acusados também o irmão de Dirceu, o diretor indicado por Dirceu, o assessor de Dirceu, a empresa que era de Dirceu, a filha de Dirceu e assim por diante.
Não cabe aqui entrar no mérito do conteúdo da operação Lava Jato (já exaustivamente divulgado), mas de sua configuração midiática. Qual a receita de sucesso das prisões da Lava Jato, em especial da de José Dirceu? Como em qualquer blockbuster, o primeiro ingrediente são os personagens, e há muitos, que ganham repercussão a cada fase da investigação. Além dos juízes, secretárias e outros anônimos, há os políticos e, agora, empresários.
O enredo da operação é formado por um quebra-cabeça cujas peças são pessoas, que levam a outras e assim sucessivamente, sem se saber ao certo onde se vai chegar. O combate à corrupção tem como foco nas pessoas, não no sistema político e cultural que sustenta essas práticas corruptas. Associar a corrupção a pessoas talvez seja mais atrativo midiaticamente (e menos corrosivo politicamente), pois há sempre novas celebridades, com histórias não tão bem explicadas, mas que alimentam, de tempos em tempos, não só as fases da operação como os noticiários midiáticos.
Claro que nem todos os acusados e presos ganham o mesmo destaque. Enquanto alguns anônimos se tornam celebridades, outros já famosos, como José Dirceu, têm a prisão celebrada como justiça exemplar, o alimento da esperança de que a impunidade de políticos e poderosos não existirá mais no Brasil à medida que são presos.
Nessa operação policial midiática, outro ingrediente de sucesso que caiu nas graças da mídia e do Poder Judiciário é a delação premiada. Ninguém questiona que se trata de uma negociação que beneficia as pessoas declaradamente envolvidas no sistema de lavagem de dinheiro, quase uma última oportunidade de arrependimento e redenção. Os empreiteiros ganham destaque nessa cena, como analisado em outro texto desse dossiê do GrisLab . O que interessa é a delação de novos nomes, que desdobram novas fases da operação e mantêm vivas as expectativas das esquerdas e direitas de surgirem os nomes de seus opositores.
Outro ponto interessante é como a mídia tem acesso e divulga detalhes dos processos judiciais antes mesmo que os acusados sejam notificados; a mídia está permanentemente produzida e agendada para a cobertura de cada prisão. No caso de Dirceu, antes de ser um réu da justiça, tornou-se um réu midiático. Prendê-lo pareceu o clímax de um filme que levaria ao final feliz de mais uma trama policial midiática. Só que não.
Suzana Lopes
Doutoranda do PPGCOM/UFMG e pesquisadora do GRIS.
Leia outras análises do nosso Dossiê Lava Jato AQUI.
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