O dia 1º de maio é tradicionalmente um dia de pronunciamento do/a presidente em exercício. Não foi diferente neste ano de 2017, em que Michel Temer discursou, para as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, sobre a Reforma Trabalhista que tramita no âmbito legislativo. Ao lado da Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista é uma pauta cara ao peemedebista. A estratégia do Planalto foi utilizar apenas as redes sociais na divulgação do vídeo para evitar reações, como os panelaços, que marcaram muitos pronunciamentos anteriores de Dilma.
A mensagem do presidente é otimista, fala da reforma como a única saída para a crise, assegura que “iniciamos uma nova fase” com criação de empregos, direitos trabalhistas assegurados e saque das contas inativas do FGTS. O quadro acionado por Temer para definir a reforma em curso é o de “modernização das leis trabalhistas”. É uma resposta calculada às manifestações ocorridas na sexta anterior, 28 de abril, quando milhares de pessoas saíram em convocação a uma greve geral, protestando contra as duas reformas propostas pelo governo. Na perspectiva de quem protesta, a Reforma Trabalhista é enquadrada como uma redução de direitos e uma precarização das relações trabalhistas. Eis uma primeira dissonância que se pode observar entre o governo e a sociedade ao definir a Reforma Trabalhista em curso.
No dia 28, o político concedeu uma entrevista ao apresentador Ratinho, garoto-propaganda das reformas propostas pela administração Temer, em que declarou que “os governos precisam passar a ter marido”, assim como as donas de casa. A comoção só não foi maior que a mensagem no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em que Temer reiterou o serviço doméstico como a única atribuição para as mulheres: as responsáveis pelo lar, pelo cuidado com os filhos, pelas compras no supermercado e pela saúde financeira da casa.
Tais posicionamentos assumidos por Michel Temer vão na contramão das lutas feministas em curso que vêm buscando desconstruir as desigualdades de gênero em nosso país. Assim como outros casos recentes que exibem o machismo cotidiano enfrentado pelas mulheres – como o de José Mayer – as posturas de Temer revelam e reforçam as atitudes machistas e misóginas tão naturalizadas em nossa sociedade. Essa é a segunda dissonância que se apreende entre os sentidos que emergem das falas do presidente e a realidade brasileira.
Para onde tais disputas simbólicas apontam? Para o reforço da imagem pública de um presidente conservador e machista e para a necessidade de continuar lutando para transformar os sentidos atrelados ao lugar social ocupado pelas mulheres, construindo uma sociedade e um governo mais justos.
Paula Simões
Professora do PPGCOM-UFMG
Coordenadora do GrisLab
Laura Lima
Mestranda do PPGCOM-UFMG
Membro do GRIS