Outras esferas do executivo seguem atuando com o mesmo potencial destrutivo, mas sem serem percebidos graças ao caos gerado por Bolsonaro.
Desde janeiro, os desmandos do governo federal ocupam a maior parte – senão toda – a agenda política do Brasil. Os pronunciamentos inadequados do presidente e seus ministros, as consequências dos cortes no orçamento da saúde e educação, a perseguição às artes e aos artistas, o aprofundamento da desigualdade social, a crise ambiental e o aumento da violência urbana e de gênero parecem consumir toda a energia que possuímos para resistir ao cenário de desmontes.
Mas, enquanto isso, governadores e prefeitos de várias partes do Brasil, em especial Romeu Zema, governador de Minas, seguem, quase sem serem incomodados, com o plano neoliberal de liquidar o estado.
Desde o início do ano, o atual governador de Minas já derrubou diversas promessas de campanha: se condecorou com a Medalha Tiradentes, que prometeu extinguir, concedeu jetons ao seu secretariado, contradizendo suas críticas eleitorais, e tem usado com frequência as aeronaves oficiais, que disse serem excessos. Tudo isso sem muito alarde.
Mas, mais grave do que o descumprimento de suas promessas eleitoreiras e ingênuas, estão suas ações nefastas, neoliberais e destrutivas, que pouco se comenta: a retirada de vagas do programa Escola Integral, a fusão de pastas e dissolução de programas importantes para a manutenção das políticas sociais estaduais, e, por fim, o projeto de recuperação fiscal, que já demonstrou seu potencial destrutivo no Rio de Janeiro e que prevê a venda das estatais mais importantes do estado, o congelamento de salários e o aumento da contribuição previdenciária dos servidores.
Tais ações e desejos de Zema revelam, em primeiro plano, sua coerência ideológica neoliberal, que foi pouco discutida durante as eleições já que ele, enquanto candidato, se mostrou como uma “terceira via”, surfando no discurso da antipolítica e no fator novidade. No entanto, o cenário que se desenha em Minas dá a ver, também, o estado de inércia da população mineira, semeado e cultivado nas últimas décadas por governos que criaram, alargaram e ignoraram a crise fiscal que se desenrola agora e que, se resolvida pelo caminho planejado pelo governador, colocará o estado em uma situação ainda mais precária.
Há quem chame os absurdos proferidos e feitos pelo governo federal de “cortina de fumaça”. Porém, analisando o cenário político local, é difícil concordar que a fumaça é só uma cortina, e não um sinal do fogo que destrói as bases frágeis que sustentavam o Brasil como o país de todos. O que precisamos ver é que as chamas ardem mais perto do que imaginamos, e os incendiários estão por toda a parte.
Mayra Bernardes, mestre em Comunicação pela UFMG