Regina Duarte permaneceu por pouco mais de três meses no governo. Enfrentou resistência desde o início da ala mais conservadora, foi perdendo mais apoio dia após dia e não resistiu após a fatídica entrevista concedida à CNN Brasil. Seu despreparo foi evidente e assumido por ela mesma. Enquanto isso, artistas de todo o país ficaram – e continuam – à deriva em um momento em que mais precisam de apoio.
Durou pouco mais de três meses a passagem de Regina Duarte pela pasta da cultura em Brasília. Aos 73 anos, a ex-atriz global nunca foi unanimidade no governo de Jair Bolsonaro. Durante o breve período em que ocupou a Secretaria Especial de Cultura perdeu ainda mais apoio. A gota d’água veio quando a então secretária concedeu entrevista à emissora CNN Brasil, dia 07 de maio. Nem o presidente Bolsonaro lhe deu guarita.
Não que ele tenha tido um arroubo de sensatez ou tivesse ficado estupefato com a postura de sua secretária, que desfez da gravidade da ditadura e da pandemia da Covid-19 no país. Regina já estava se equilibrando na pasta há muito tempo.
Logo quando aterrissou em Brasília para tampar o buraco aberto por Roberto Alvim –, antigo secretário que caiu depois de gravar um pronunciamento inspirado em discurso nazista – Regina enfrentou resistência da ala mais ideológica do governo, capitaneada por Olavo de Carvalho. Ela não seria capaz de comandar a guerra contra o marxismo cultural no setor, diziam eles.
Regina chegou a nomear Pedro Horta para ser o seu secretário adjunto, o número 2 da pasta, mas foi exonerado a poucos dias de assumir. Isso foi entendido como o início de sua “fritura” no cargo. Após esse episódio, Bolsonaro ainda disse que queria Regina Duarte mais próxima, porém afirmou que a então secretária tinha dificuldades de lidar com algumas questões da secretaria.
Quase duas semanas após a fatídica entrevista à CNN Brasil, os rumores de sua saída viraram realidade. Mas, como não poderia ser diferente, a atriz e o presidente protagonizaram uma encenação. Gravaram um vídeo ironizando a mídia que, segundo ambos, estaria querendo “desestabilizar o governo”. “Tá me fritando, presidente?”. “Jamais vou fritar você”, respondeu Bolsonaro, na gravação.
Regina usou o vídeo para revelar que, na verdade, estava recebendo um grande presente de Bolsonaro: comandar a Cinemateca, em São Paulo, cuja sede é próxima de sua residência. No dia 10 de junho, Regina Duarte publicou em suas redes sociais o documento que oficializou a sua exoneração e escreveu: “Deu-se. #Ufa!”.
Esse “Ufa!” contrasta com a empolgação com que assumira a função há poucos meses, inclusive, quando a pandemia da Covid-19 deu as caras por aqui. O vírus derrubou da noite para o dia o ganha pão de milhares de artistas pelo país. Enquanto isso, na secretaria cuja existência, em tese, tem objetivo de atuar em prol da cultura e de quem vive dela, atuou uma pessoa declaradamente inapta para a função. “Ocupei por quase três meses um cargo que exigiu de mim experiência, estratégia e táticas totalmente distantes de tudo para que eu fui preparada a vida inteira para fazer”, diz. Regina saiu. Ufa! E quem será o próximo?
Rafael Campos, jornalista e mestre em Análise do Discurso pela Faculdade de Letras (Fale/UFMG)