Ativismo político: o céu e o inferno para as celebridades
O ativismo político de Lobão e Tico Santa Cruz tem gerado uma intensa repercussão nas chamadas redes sociais digitais. Lobão é um fervoroso defensor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tico não chega a ser um militante do PT, mas percebe-se, em sua fala, uma clara tentativa de problematização do crítico contexto atual. Os dois roqueiros ganharam inúmeros fãs a partir da emissão de suas opiniões políticas. Mas ambos também têm amargado o ódio de quem não compartilha da mesma postura e visão de mundo.
Nos anos 2000, a banda Detonautas Roque Clube emplacou várias paradas de sucesso, principalmente, entre o público jovem. No entanto, os garotos nunca chegaram a transitar pelo primeiro escalão da música brasileira. Por sua vez, João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão, fez parte do efervescente cenário do rock dos anos 80. Compositor de célebres canções, como “Me chama” e “Vida louca vida”, Lobão também nunca conseguiu usufruir novamente do sucesso dos tempos áureos.
Apesar de não estarem mais sob os holofotes midiáticos no quesito “música”, Lobão e os Detonautas, mais precisamente o vocalista Tico Santa Cruz, hoje são célebres por cantar em outra freguesia: aquela ligada a assuntos da política nacional. O posicionamento de Tico e de Lobão gera uma intensa repercussão em um ambiente bem específico: as chamadas redes sociais digitais. Lobão possui mais de 300 mil seguidores na plataforma Twitter e quase 100 mil fãs no Facebook; os respectivos perfis de Tico apresentam números ainda mais expressivos: 251 mil no microblog e 1,7 milhão na rede de Mark Zuckerberg.
Entre os inúmeros assuntos opinados por ambos, estão, claro, as denúncias de corrupção envolvendo o quadro governista brasileiro e, mais especificamente, toda a reverberação em torno do acontecimento “operação Lava jato”. Sobre o fato, os dois têm ocupado posições bem distintas: Lobão é um fervoroso defensor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tico não chega a ser um militante do Partido dos Trabalhadores, mas percebe-se, em sua fala, uma clara tentativa de problematização do crítico contexto atual.
Morin (1984) explica que nos relacionamos com os produtos culturais – e aí se encaixam as celebridades midiáticas – pela relação projeção-identificação. De fato, Tico e Lobão ganharam inúmeros fãs a partir de suas famas como ativistas políticos. Não são raros os comentários nas redes sociais com declarações do tipo: “Tico, nunca gostei de Detonautas, mas hoje sou seu fã número 1” ou “Lobão, confesso que não gosto de você como músico, mas passei a te seguir porque você representa a mudança que eu quero”. Mas não é só isso. No Facebook, Tico ocasionalmente divulga as ameaças de morte que recebe pela internet. O cantor já chegou a protocolar denúncias em delegacias especializadas. Já Lobão tem reclamado do esvaziamento e até mesmo do cancelamento dos seus shows em função de sua posição política.
O ativismo dos músicos tem sido, portanto, uma faca de dois gumes. Se as celebridades podem arrebatar multidões por afinidade, o contrário também é verdadeiro. Os artistas que escolheram por não ficar apenas vendo a banda passar, podem colher bons frutos. Mas também precisam estar preparados para as notas desafinadas que surgem em meio à reverberação dos acontecimentos que eles optam por se envolver.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MORIN, Edgar. Cultura de massas do século XX: o espírito do tempo – Neurose. Rio de Janeiro: Forense-Universitário, 1984.
Raquel Dornelas
Pesquisadora do GRIS.
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Vivemos hoje um contexto de polarização das posições políticas. As posições das celebridades agradam e desagradam ao público, fãs ou não. A grade questão é a forma e os argumentos usados. Não há como respeitar posições que se baseiam em insultos e falas deselegantes. Não vou deixar de apreciar a voz, as composições dos artistas que gosto, mas não vou aplaudir suas declarações que não condizem com minha posição política ideológica e deixarei de ir ao show se ele fizer do palco um lugar para expor suas posições sem possibilidade de debate. Bom trabalho Raquel