Uma facada na democracia

Os tempos são sombrios, o ódio e a intolerância tomam conta do cenário político. A violência volta a ser cogitada como ferramenta política, esses problemas vão além do discurso, e as ações começam a surgir. Infelizmente, a democracia brasileira tomou uma facada.

Fonte: SputnikNews

No dia 6 de setembro, um presidenciável sofreu um atentando contra sua vida na cidade de Juiz de Fora (MG). Em plena passeata, Jair Bolsonaro foi atingido por uma facada. Bolsonaro teve o estômago e o fígado perfurados e foi submetido a quatro procedimentos cirúrgicos, e sua campanha foi suspensa, sem previsão de retorno. O responsável pela facada foi preso em flagrante no local e foi escoltado pela polícia, pois os eleitores/fãs do candidato responderam com violência à tentativa de homícidio. Adelio Bispo é natural de Montes Claros e afirmou, em depoimento à PF que agiu sozinho e foi orientado por forças divinas.

O ocorrido em si é muito problemático para nossa jovem democracia. No entanto, as reverberações desse acontecimento também são preocupantes e mostram como estamos longe de sermos democratas. O jogo da democracia precisa ser jogado nas urnas e não na violência.

Após o acontecimento, começaram a surgir algumas teorias sobre a facada, dividindo opiniões. Em alguns posicionamentos, o acontecimento foi lido como uma estratégia de autopromoção, afinal, o combate a violência é um dos pilares da campanha do candidato. Numa outra corrente, culpou-se  a esquerda, mais precisamente partidos como o PT e o PSOL pelo atentado, acirrando a polarização do cenário político. Acusações e apontamentos ao PT ou adeptos do partido partiram até mesmo do vice de Bolsonaro.

Perfis em redes sociais começaram a culpar o próprio Bolsonaro pela facada, uma vez que seus discursos  estimulam a violência. De fato, dizer que Bolsonaro é alvo da violência que ele mesmo dissemina é complicado. Porém, na mesma semana, em um de seus discursos no estado do Acre, ele usou um tripé para simular um fuzil e disse que iria fuzilar toda a “petralhada do Acre”. Espalhar discurso de ódio e intolerância pode reforçar esse tipo de sentimento numa sociedade, sem que se possa prever para onde ele vai ser direcionado.

Também surgiram posts nas redes sociais desejando também a morte do candidato, questionando a competência do autor do atentado. Apesar de ser um posicionamento problemático, esse tipo de posicionamento pode ser lido como uma resposta daqueles que têm suas vidas ameaçadas por uma possível vitória do candidato. Nesses casos, o desejo de morte que recai sobre Bolsonaro não seria necessariamente relacionado à pessoa, mas sim aos discursos que ele reproduz. Essas pessoas não desejam, de fato, a morte de Jair Bolsonaro, mas sim a morte dessas ideias retrógradas, conservadoras e intolerantes. Não estamos falando de opinião, até porque a existência de uma pessoa não é passível de opinião.

A comunidade LGBTQI+ existe e resiste todos os dias, bem como a comunidade negra, as mulheres e demais minorias sociais. Essas minorias sociais buscam o fim do que ameaça seus direitos, integridade e existência no mundo. Acreditamos que essa ameaça precisa ser vencida nas urnas, mesmo que o  fascismo não admita essa vitória.

Esse acontecimento e todas as suas reverberações mostram o quanto temos uma frágil democracia e precisamos cuidar mais dela. Ações violentas, endossos, acusações e muito ódio ameaçam não só as eleições de 2018, mas sim todas as questões políticas da nossa sociedade. É hora de pensarmos na nossa democracia, e ver que ódio e a intolerância não estão só no outro, mas às vezes está em nós também.

Paulo Basilio

Mestrando em Comunicação Social na PUC Minas