Análise | Poder e Política

Bolsonaro nos EUA, Brasil na bandeja

No dia 19 de março, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com Donald Trump, o presidente dos EUA para a primeira reunião bilateral. O que poderia ser uma reunião de acordos e ganhos para os dois lados não passou de uma entrega de mimos da terra tupiniquim aos “americanos”.

Fonte: Agência Brasil

Além de outros acontecimentos, março foi marcado pelo primeiro encontro entre Jair Bolsonaro e Donald Trump como chefes de estado, ou seja, os presidentes se reuniram para conversar e viabilizar acordos de benefícios mútuos para suas respectivas nações. O encontro foi no dia 19 de março, mas a chegada de Bolsonaro e sua comitiva aos EUA foi no dia 17 e seu primeiro discurso nos EUA, no dia seguinte. Seu discurso foi marcado por temas polêmicos como a Venezuela, capacidade bélica e financeira dos EUA, bem como o “amor à primeira vista” de Bolsonaro com Paulo Guedes, trecho esse que foi linkado, pelo próprio presidente, com a fala “obviamente, não sou homofóbico”. Nos discursos proferidos, foram levantados questões dos antigos governos também, ressaltando o que ele considera como “ineficiência” e má relação, uma vez que agora existe “um presidente que adora a América”.

A visita, incluindo os discursos citados, repercutiram na mídia nacional e internacional. Manchetes destacaram o poder bélico dos EUA, um possível conchavo entre esses países para “libertar o povo Venezuelano”, além de uma negociação que teve mais benefícios para uma parte do que para a outra. De acordo com um decreto do presidente Bolsonaro, o Brasil não exige mais visto de visita dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão. Em contrapartida, espera apenas um aumento de turismo no país e não que aconteça o mesmo nesses países com os turistas brasileiros, com exceção do Canadá que já dispensou o visto. A tentativa do presidente é de viabilizar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Trump disse ser favorável a essa entrada. Mas nada concreto foi feito ainda.

O presidente norte-americano é alvo de uma adoração por parte de Bolsonaro, algo que se explica pelo jeito semelhante de ambos em tratar a imprensa e também por serem conservadores e neoliberais. No entanto, essa admiração – em vias práticas – parece ser unilateral, uma vez que Trump mostra uma apenas simpatia ideológica pelo presidente brasileiro. : “O Brasil tem um grande novo líder. Dizem que é o Trump brasileiro. Acreditam? Mas ele gosta. Se ele não gostasse, eu não gostaria do Brasil”****. Essa unilateralidade é visível também no que concerne às ações de Trump em comparação aos atos de Bolsonaro na visita oficial: o único presente dado a Bolsonaro foi uma camisa da seleção de futebol dos EUA.

O encontro entre Trump e Bolsonaro representa bem o complexo de vira-lata, tal como definido por Nelson Rodrigues e usado na mídia brasileira para caracterizar a visita: A necessidade de reconhecer os EUA como um país superior em quase tudo e colocar seus interesses sobressaindo aos nossos é a mais escancarada definição desse espírito. Adorar a América é exatamente isso, achar que tudo que a América tem é bom e por isso devemos “imitar” seus jeitos, sua política, seu neoliberalismo, entre outros.

Ao exaltar a capacidade bélica e financeira do EUA fica evidente o quanto alguns governantes brasileiros ainda têm a necessidade de uma aprovação norte-americana para acordos financeiros com outros países. Não é mais considerada uma relação harmônica de respeito, mas sim uma relação de superioridade para os EUA e inferioridade para o Brasil. Deixamos de ter presidentes como Lula e Dilma que respeitam a América e temos um que “ama a América” e que se submete ao seu governo, agenda e interesses.

Paulo Basílio
Mestrando em Comunicação pela PUC Minas




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