Análise | Diário da Quarentena Poder e Política

Como não agir em tempos de pandemia

Enquanto autoridades do mundo se preparam para proteger a população e enfrentar uma das maiores e mais extensas crises na saúde já vividas, o presidente Jair Bolsonaro demonstra despreparo e irresponsabilidade, anda na contramão e piora a situação brasileira.

Foto: Adriano Machado / Reuters

As atitudes equivocadas do presidente da República, ante a pandemia do novo coronavírus, ganham proporções muito graves – são irresponsáveis e colocam em risco a integridade física da população brasileira. Na contramão daquilo que vem sendo orientado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Bolsonaro vem tratando uma das maiores crises mundiais deste século como uma mera “gripezinha”.

Desde o anúncio dos primeiros casos da doença no território brasileiro, o presidente tenta minimizar os efeitos da situação, o que pode causar um colapso no sistema de saúde e muitas mortes. Supostamente seguro do seu propósito, Bolsonaro trata a reação da população e dos governos estadual e municipal, que se esforçam para  agir de acordo com as recomendações da OMS, como “pânico desnecessário” e “histeria”. Quanto às informações repassadas pela imprensa sobre os danos causados mundialmente pelo vírus, bem como a declaração de especialistas sobre precauções necessárias, ele as define como “exagero” e “mentira”.

As declarações, entretanto, não são as únicas irresponsabilidades cometidas pelo presidente. Entre os dias 7 e 10 de março ele esteve na Flórida, nos Estados Unidos, e a comitiva que o acompanhava registrou 23 casos confirmados da doença, como o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten. Após a viagem e em isolamento, por haver risco de ter sido infectado e de transmitir o vírus, Bolsonaro participa de uma manifestação de cunho antidemocrático contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (que ele mesmo convocou), sem nenhuma proteção, onde tocou manifestantes e manuseou celulares – exatamente tudo o que deveria ser evitado para não expor outras pessoas ao risco de contaminação pela doença.

Além de minimizar a importância da quarentena e os efeitos devastadores do Covid-19, o presidente busca emplacar medidas que colocam, ainda mais, o bem-estar da população em risco e fragilizam os sujeitos mais socialmente vulneráveis. Apesar das reações negativas, ilustradas pela hashtag #bolsonarogenocida, que foi muito mencionada no Twitter, o tom do pronunciamento realizado nesta terça-feira (24/03) não mudou.

O presidente desencorajou a realização de isolamento social e quarentena (por enquanto, únicas medidas eficazes para conter a expansão do vírus) e, em meio a afirmações que não condizem com a realidade, sugeriu que transportes, escolas e empresas voltassem a funcionar normalmente. Esse pronunciamento se alinhou a declarações recentes de grandes empresários sobre o assunto, priorizando “a economia” sobre as medidas de contenção do corona. Para o empresário Júnior Durski, por exemplo, dono da rede de hamburguerias “Madero”, a economia brasileira não pode parar por causa de “5.000 pessoas ou 7.000 pessoas que vão morrer”. Tanto as declarações quanto o pronunciamento geraram duras críticas, revolta e contribuíram para minar ainda mais o apoio popular ao presidente, que age no sentido contrário daquele que o ministro da Saúde do seu próprio governo, Luiz Mandetta, vem atuando.

Em menos de três meses, o coronavírus já matou quase 20 mil pessoas no mundo. Bolsonaro minimiza a crise e desmerece o trabalho sério de autoridades e instituições que vêm tentando reduzir os efeitos de um vírus de alto potencial de propagação e letalidade. Isto revela não apenas despreparo e irresponsabilidade por parte do líder da nação, mas também uma postura genocida.

Chloé Leurquin, Jornalista, doutoranda em Comunicação/UFMG e pesquisadora do Gris
Cecília Bizerra Sousa, Jornalista, doutoranda em Comunicação/UFMG e pesquisadora do Gris



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