Análise | Poder e Política

Eleições presidenciais: as surpresas do primeiro turno

No último domingo, 7 de outubro, aconteceu a oitava eleição presidencial de nossa história pós-redemocratização, agregando o maior número de candidatos desde 1989. Marcado por surpresas em relação aos vencedores e perdedores, pela formação de uma nova bancada feminista e também pela propagação das fake news sobre a veracidade dos resultados, terminamos esta primeira fase do pleito com o olhar na defesa da democracia.

Fonte: Jornal Metrópoles

No último domingo, 07 de outubro, aconteceu a oitava eleição presidencial de nossa história pós-redemocratização. Ao todo, são 147 milhões de eleitores, dos quais 40 milhões (27,5%) se abstiveram, anularam ou votaram em branco, enquanto o restante se dividiu em apoio aos outros treze candidatos à presidência, o maior número desde a eleição de 1989. A apuração mostrou, mais uma vez, um país dividido entre duas candidaturas, que disputarão o segundo turno ainda no final deste mês: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Enquanto a votação ocorria nos 26 estados do Brasil, pipocaram nas redes sociais relatos de eleitores de Bolsonaro contestando a isenção e a apuração das urnas eletrônicas. Eduardo Bolsonaro chegou a divulgar um vídeo falso em que uma urna sugeriria automaticamente o voto em Fernando Haddad, boato rapidamente desmentido pelo TSE. O pleito também foi marcado por ações depredatórias de urnas em diversas seções eleitorais, por vídeos de eleitores com armas na cabine eleitoral e por filas demoradas, dando a ver forte engajamento dos brasileiros no processo eleitoral, mas também manifestações de insatisfação e revolta.

Enquanto acontecimento programado, geralmente marcado por poucas novidades,  a falta de correspondência entre os resultados apresentados nas pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas nas semanas de corrida presidencial e o resultado revelado pelas urnas gerou surpresas entre os eleitores. Em Minas Gerais, Romeu Zema, candidato do Partido Novo, veio tímido nas pesquisas e por isso foi ficando de fora dos debates de TV até a última semana, quando disparou nas pesquisas após acenar apoio à candidatura de Bolsonaro. No resultado final, conseguiu tirar Fernando Pimentel (PT) da disputa pelo segundo turno. No cenário nacional, surpreendeu o resultado obtido por Marina Silva (REDE), que recebeu menos votos que Cabo Daciolo, até então cotado pelas pesquisas para receber apenas 1% dos votos.

Na votação para cargos legislativos, a derrota de nomes famosos no mundo político também surpreendeu. Dilma Rousseff, Magno Malta, Sarney Filho, Beto Richa, Romero Jucá e Eduardo Suplicy foram derrotados nas urnas, embora viessem aparecendo entre os favoritos nas pesquisas de intenção de votos. Por outro lado, novos perfis políticos conseguiram vitórias expressivas: em São Paulo, celebridades como Tiririca e Alexandre Frota conquistaram vagas para a Câmara dos Deputados, além de Janaína Paschoal, que ganhou projeção nacional após suas falas belicosas durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Herdeiras da missão política de Marielle Franco, dez candidatas negras conseguiram se eleger deputadas federais em todo o Brasil, e se juntarão a Luiza Erundina, reeleita, na composição da  nova ‘bancada feminista’.

Ainda sobre a votação para cargos legislativos, os partidos de Haddad e Bolsonaro foram os que mais elegeram seus candidatos, podendo oferecer forte oposição a quem vencer o segundo turno. Apesar do PT ter sido a legenda com o maior número de cadeiras, com 56 deputados eleitos, ele acompanhou a tendência de outros partidos tradicionais e diminui sua presença na câmera, perdendo 13 cadeiras em relação às eleições de 2014.  Já o PSL, que nas eleições passadas conseguiu eleger apenas um deputado, cresceu vertiginosamente e, desta vez, ocupará 52 cadeiras. Enquanto isso, a centro-direita foi esmagada – PSDB E MDB perderam mais da metade das cadeiras que ocupavam –, demonstrando a acentuação da polarização esquerda-direita também no Congresso.

Para o segundo turno, nossa esperança é que os eleitores indecisos e que apoiaram outros candidatos no primeiro se mobilizem em torno da defesa da democracia, seriamente ameaçada pela candidatura de Jair Bolsonaro. Os demais candidatos devem anunciar ainda essa semana apoio ou neutralidade, e Ciro Gomes saiu na frente, soltando um “ele não” ao final de seu pronunciamento. Enquanto isso, Bolsonaro voltou a sugerir que houve fraude nas urnas e declarou estar disposto a “colocar um ponto final em todo ativismo no Brasil”, mais uma vez apostando no antipetismo e nas ameaças em seu pronunciamento pós-resultado.

Mayra Bernardes

Mestranda em Comunicação do PPGCOM/UFMG 

Pesquisadora do GRIS



Comente

Nome
E-Mail
Comentário