Análise | Esportes

#ForçaChapecoense

O trágico acontecimento envolvendo o time de Chapecó provocou comoções, despertou solidariedade pública; teve reflexos no mundo do futebol, na mídia, no campo da política.

Imagem: Google Images

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Na sequência de convulsões e acontecimentos trágicos que viemos sofrendo ao longo do ano de 2016, mais uma tragédia de profunda dimensão humana: a queda do avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol. Foram 71 vítimas (dentre 76 passageiros) – jogadores, equipe técnica e dirigentes do clube, além de inúmeros jornalistas esportivos e tripulantes da aeronave.

Os sentidos abertos por um acontecimento desta magnitude faíscam em todas as direções. A primeira delas é, sem dúvida, a comoção; pelas vidas humanas, pela juventude e perspectiva de futuro que animavam os 19 jogadores; pela trajetória e pela bela campanha que vinha fazendo o time, já na reta final da Copa Sul-Americana de 2016; pela dedicação e contribuição dos profissionais da imprensa; pelos familiares e pela pequena cidade de Chapecó, tão orgulhosa do sucesso de sua equipe.

A sensibilização foi geral – no Brasil e no mundo. E múltiplas manifestações de solidariedade se fizeram sentir. A primeira delas, comovente, foi do povo e autoridades colombianas, no socorro e homenagem às vítimas; do clube Santa Fé, atual campeão da Copa Sul-Americana que lhe doou a taça. Clubes do mundo inteiro se manifestaram, alguns se propondo a emprestar jogadores para recompor o time desfeito. Os jogos do Campeonato Brasileiro foram adiados e o próximo adversário da Chapecoense, o Atlético Mineiro, não irá comparecer ao jogo, cedendo a vitória ao time de Chapecó. A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) declarou o time campeão da competição do ano de 2016. No twitter, a hashtag #ForçaChapecoense movimentou cerca de 500 mil tweets, alcançando os Treendig Topics mundiais por três dias seguidos.

A cobertura midiática, no entanto (e como já vem acontecendo em muitas ocasiões), em vários momentos pisou fora da bola – exagerando no tom emocional, explorando e se intrometendo na intimidade da dor dos familiares e amigos. O site Catraca Livre, conhecido por sua irreverência em tratar assuntos populares, cometeu uma grande gafe em publicar uma série de matérias relacionadas ao medo de avião, além de postar alguns vídeos do time feito na viagem antes do acidente. O site teve uma perda notável de curtidas em suas mídias sociais e chegou aos Treendig Topics do Twitter, onde internautas condenaram tais ações. Como resposta o CEO do portal, Gilberto Dimenstein, pediu desculpas e reconheceu seu erro através do Facebook.

Como sempre, houve aqueles que pegaram carona na catástrofe – autoridades locais (a Câmara de Chapecó propôs que Medellin seja declarada cidade irmã), sites de venda, como a loja virtual de artigos esportivos Netshoes, que aumentou o valor da camisa do time (que antes custava R$ 159,00) para mais de R$ 200,00.

O acontecimento também esbarra no estranho cenário que estamos vivendo, conforme ressalta Juca Kfouri: o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não viajou até a Colômbia, para o encaminhamento do embarque dos corpos, por medo de ser preso; o presidente da República, Michel Temer, hesitou em se fazer presente no velório, por medo de vaias. “Que país esquisito, o nosso”, ele comenta (CBN, 05/12).

Na última hora, o presidente brasileiro, que iria apenas ao aeroporto de Chapecó para prestar homenagem às vítimas e familiares, resolveu comparecer ao Estádio Índio Condá (SC), onde estavam sendo velados os corpos do pessoal do time. Foi recebido em silêncio pelo público que lotava o estádio, numa lição de respeito e civilidade. Mas esse mesmo público saudou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, numa manifestação comovida de agradecimento.

Esse acontecimento reuniu ingredientes de profunda tristeza: a perda, a interrupção de futuro, o esmaecimento de sonhos. Morreram profissionais (do esporte, da imprensa) dos quais poderíamos nos orgulhar. Em contraste com tantos (e tanta coisa) das quais não nos orgulhamos. A dor é um momento forte, que desperta solidariedade. Uma solidariedade que precisamos aprender a sentir em outros momentos que não apenas de perda.

 

Vera França
Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG
Coordenadora do Grispop

 

Paulo Basílio
Graduando em Comunicação Social pela Puc-Minas
Voluntário de Iniciação Científica do Gris/UFMG

 

Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de dezembro, definido em reunião do GrisLab.



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