Diante de escândalos subsequentes de corrupção, infinitas fases da Lava Jato, um pedido de impeachment que culminou no afastamento da presidente da República, pedidos de prisão dos presidentes das duas casas do Legislativo e de um ministro do governo interino, celebrar o esporte nunca ficou tão perto e tão distante de nós brasileiros, que sediaremos os Jogos Olímpicos em menos de 60 dias, mas pouco falamos sobre o assunto.
Assim como a Copa do Mundo, a final do Super Bowl nos EUA ou a Liga dos Campeões da UEFA, os Jogos Olímpicos são eventos que mobilizam grandes públicos (pagantes e de audiência) e recebem extensa e intensa cobertura dos meios de comunicação, já que sua dimensão é global, com atletas de 168 países participando das competições. Esses megaeventos esportivos são acontecimentos, que, mesmo programados e esperados pelas pessoas, têm o poder de trazer à tona problemas do passado e mudar a dinâmica das cidades, da mídia e da população.
Faltando menos de 60 dias para o início dos Jogos, que este ano acontecerão em nosso país, na célebre e badalada cidade do Rio de Janeiro, nota-se uma estranha calmaria na mídia e nas ruas sobre o evento, enquanto o país atravessa uma longa e tortuosa tempestade política. Diante de escândalos subsequentes de corrupção, infinitas fases da Lava Jato, um pedido de impeachment que culminou no afastamento da presidente da República, pedidos de prisão dos presidentes das duas casas do Legislativo e de um ministro do governo interino, celebrar o esporte nunca ficou tão perto e tão distante de nós brasileiros.
A chegada da Tocha Olímpica no país (estava circulando pelo Ceará) foi noticiada quase como pano de fundo da crise política, assim como o percurso da mesma por outros estados. Enquanto o site oficial afirma a conclusão das obras e o ministro Eliseu Padilha garante o sucesso do evento, a dúvida surge quando um dos maiores complexos, o do Deodoro, aparece envolvido em suspeita de fraudes e investigações na primeira semana de junho
Às vésperas do início dos Jogos, o único momento em que o evento recebeu grande destaque no noticiário nacional foi em razão de uma tragédia, que envolveu pelo menos dois mortos: a queda de um pedaço da ciclovia Tim Maia, no último dia 21 de abril. O desabamento da ciclovia, que custou R$ 44 milhões aos cofres públicos, despertou sérios questionamentos sobre o nível de preparação da cidade para os Jogos Olímpicos, a qualidade das obras e os riscos a que a população, os atletas e turistas estão expostos. A ameaça do vírus da zika fez, inclusive, 150 cientistas pedirem o adiamento/cancelamento dos jogos. Recentemente, importantes atletas internacionais desistiram de participar das competições, e a venda dos ingressos segue em ritmo lento.
A queda da ciclovia, em seu poder próprio de afetação, trouxe à tona, além de preocupações ligadas a um futuro possível dos Jogos Olímpicos do Rio – se eles aconteceriam realmente, se a cidade e o país estariam preparados neste momento, quais os outros problemas porvir -, lembranças das obras inacabadas da Copa do Mundo de 2014, bem como a queda do viaduto Batalha dos Guararapes, um triste “legado da Copa” para Belo Horizonte.
Em meio a investigações de complexos esquemas de corrupção, crise econômica e política, Zika e Febre Chikungunya e chocantes casos de violência urbana, é difícil cobrar que a mídia e a população deem destaque ao esporte ou à passagem da tocha olímpica, que mesmo acesa há tempos e circulando pelo Brasil, nunca esteve tão apagada no cotidiano do brasileiro.
Laura Antônio Lima
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG
Pesquisadora do Gris
Mayra Bernardes
Bacharel em Comunicação Social pela UFMG
Pesquisadora do Gris
Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de junho, definido em reunião do GrisLab.