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Lula lá e ali: caravana, delação e depoimento

Em caravana pelos estados do Nordeste, Lula reencontra eleitores e simpatizantes. Em Curitiba, delação de Antonio Palocci incrimina Lula que, alguns dias depois, vai ser interrogado pela segunda vez (agora, pelo caso Petrobrás) pelo Juiz Sérgio Moro. A visibilidade do ex-presidente continua alta.

Foto: Cobertura Colaborativa.

Fatos e acontecimentos pululam no Brasil, atingindo figuras as mais variadas. No entanto, no meio ou paralelamente aos demais acontecimentos, o ex-presidente Lula permanece sempre em foco. Para o bem ou para mal, como vítima ou como réu, como herói ou como bandido, o ex-metalúrgico não sai dos holofotes, tendo suas intervenções públicas e privadas permanentemente publicizadas.

No final do mês de agosto, uma caravana organizada pelo Partido dos Trabalhadores e pelo ex-presidente percorreu os nove estados da região Nordeste do país, reunindo milhares de simpatizantes. Diversos sites e perfis nas redes sociais publicaram imagens de multidões que se aglomeram para aclamar o político e de pessoas que se acotovelam para abraçá-lo1. Ao mesmo tempo, em outros sites o impacto da caravana é minimizado e mesmo ridicularizado2.

Apesar das denúncias e processos que cercam o ex-presidente, o reconhecimento de parcela significativa da população nordestina dos benefícios feitos durantes seus governos, expresso através das manifestações da população dos vários estados, mostra que ele mantém em grande medida o seu prestígio (a ver em novas pesquisas).

No dia 6 de setembro, em delação ao juiz Sérgio Moro o ex-ministro Antonio Palocci menciona um “pacto de sangue” firmado entre Lula e Emílio Odebrecht, e reitera denúncias anteriores, relativas ao sítio de Atibaia, à compra do terreno para o Instituto Lula e a repasses de dinheiro. Na véspera, o procurador-geral Rodrigo Janot, acoçado pelo escadâlo da delação JBS, denunciou Lula e Dilma ao STF.

Na quarta-feira seguinte, dia 13 de setembro, Lula presta segundo depoimento ao Juiz Sérgio Moro, desta vez como réu do esquema Petrobrás. O juiz chega pela manhã na sede da Justiça Federal, em Curitiba, cercado por forte esquema de segurança, enquanto na rua alguns apoiadores vendem bonecos do “super-Moro”. No início da tarde o depoente entra pela porta da frente da prédio da Justiça, atravessando uma multidão de militantes do Partido dos Trabalhadores e simpatizantes do ex-presidente. No depoimento, que durou pouco mais de duas horas (a primeira audiência durou mais de cinco horas), Lula foi arguido quanto aos possíveis esquemas fraudulentos relativos aos contratos da Petrobrás,  o terreno do Instituto Lula, o aluguel de um apartamento contíguo ao seu em São Bernardo.

A audiência não trouxe novidades; Lula foi chamado a atenção por se dirigir à procuradora como “querida”; ao final, Lula pergunta a Sérgio Moro se poderia afirmar a seus netos que prestou depoimento a um Juiz imparcial. Ao que este responde: “Não cabe ao senhor fazer esse tipo de questionamento, mas de todo modo, sim.”

Em contraste com vários outros casos de denunciados, onde as evidências se mostram fartas (com gravações e imagens de negociação, recebimento e estocagem de dinheiro), no caso de Lula, usando os termos de um acusador, as “provas cabais” ainda não apareceram. Em contrapartida, os seus denunciantes ostentam forte convicção.

Enquanto isto, a imagem de Lula continua positiva para um vasto contingente de brasileiros e brasileiras que atestaram mudanças significativas para suas vidas a partir da política social do governo do petista.

1 Mar de gente como escudo para campanha de Lula, alvo de nova denúncia – El País

2 Lula no Nordeste: cadê a multidão que estava aqui? – Veja

Vera França
Coordenadora do GrisLab
Professora Titular do PPGCOM-UFMG

Lívia Barroso
Doutoranda do PPGCOM-UFMG



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