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Lula sabia: as previsões sobre a Lava Jato

Vazamentos mostram interferências do então juiz Sérgio Moro no caso que condenou o ex-presidente Lula a 12 anos de prisão: ao depor, Lula prestou explicações questionando um juiz que via com duas caras – uma de algoz e outra de possível réu.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Há mais de um ano o ex-presidente Lula (PT) foi julgado e condenado por duas instâncias, sobre um caso envolvendo um apartamento triplex no Guarujá. O crime teria sido corrupção passiva, uma vez que uma construtora teria feito reformas no imóvel como troca de favores e contratação pela estatal Petrobrás. 

O processo carrega críticas desde que foi concebido na justiça, seja pela velocidade do seu trâmite, cerca de 4-5 meses, ou pelo espetáculo midiático armado em cada etapa, como a condução coercitiva pela polícia federal e o Power Point apresentado pelo Ministério Público. 

Os vazamentos publicados pelo portal The Intercept Brasil mostram vários contatos entre Moro e Deltan Dallagnol,  procurador da Lava Jato. Essas publicações mostram parcialidade do juiz, quando orientou a acusação e prestou auxílio sobre as ações que a parte deveria seguir, conforme discutiremos em outra análise do nosso especial. 

Desde o começo do processo, Lula se mostrou tranquilo e sereno, e, sendo blefe ou não, o comportamento foi de quem não deve e, por isso, não teme. No desenrolar dos trâmites, o ex-presidente denunciou a injustiça de sua prisão e começou a acusar Moro de parcialidade. 

Lula não aceita regressão da pena. Alega querer, mesmo na cadeia, provar que Moro e Dallagnol são parceiros numa trama para tirá-lo da disputa eleitoral e tentar sujar sua imagem. “É daqui de dentro que eu quero provar que eles são bandidos e eu não. É isso que eu quero provar.” Em entrevista após os vazamentos, também disse: “eu quero sair daqui com 100% de inocência. Estou aqui porque eu quero. Eu poderia ter saído do Brasil. Tive muita oportunidade. Não quis sair porque o jeito de eu ajudar a colocar bandido na cadeia é ficar aqui.”

Tempos atrás, encerrando o segundo interrogatório como réu da Lava Jato, em Curitiba, Lula perguntou a Moro: “eu vou chegar em casa amanhã e vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara nos meus filhos e dizer que eu vim para Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?” Naquele momento alguns interpretaram como tentativa de intimidar e  descredibilizar o magistrado, mas hoje parece mesmo que Lula procurava inverter os papéis naquele momento: ele tornando-se a parte acusadora, o juiz, o acusado. Após as revelações jornalísticas da Vaza Jato, a pergunta feito por Lula ficou ainda mais fácil de se responder.

Até a suposta insônia do procurador Deltan Dallagnol foi prevista pelo petista. Não sem motivos se interpretou a tentativa de transferência do célebre réu de Curitiba para um presídio comum em São Paulo como vingança da Lava Jato. Tanto foi assim que o Supremo, com histórico de decisões desfavorável aos pedidos da defesa, aceitou por 10 votos a 1 a suspensão da transferência.

Se Moro e Deltan serão destituídos ou irão parar na cadeia, não sabemos. Mas, mesmo preso, Lula continua acontecendo, reverbera a cada novo vazamento, visita, decisão judicial e capítulo da história política do país.

Paulo Basilio Mestrando em Comunicação Social e publicitário pela PUC Minas.



Comentários

  1. Gilvan Araújo disse:

    Parabéns Paulo! Fiquei querendo ler mais. Pareceu mesmo uma premonição ou Lula já sabia com quem estava lidando.

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