Como diria o deputado Marcelo Freixo sobre o PSL, “isso não é uma bancada, isso é um acidente histórico”.
As brigas no PSL, Partido Social Liberal, ganharam um novo e impactante capítulo. Jornalistas, humoristas e outros atores sociais procuram entender e contar um acontecimento que, convenhamos, não chega a surpreender. O Globo fez um paralelo com Game of Thrones, da HBO: chamou o acontecimento de a “guerra dos tronos” do PSL*.
Observar a trajetória dos personagens ajuda a entender a forma escancarada e hostil da atual disputa. Em áudios gravados escondidos e vazamentos, declarações públicas e tuítes, os lacaios da quinta série trocam gentilezas como “vagabundo”, “vou implodir”, “pepa”, “gorda”, “picareta”, “menininho”, “sem pau”, e emoticons de animais. Os protagonistas da briga, o presidente da república e o próprio partido (na figura de seu presidente, Luciano Bivar), estão interessados em mais do que trocar ofensas. A briga é por fundos eleitorais para 2020. Precisamente, 359 milhões de reais.
Uma pergunta que surge é: por que quem diz ter sido eleito com a campanha mais barata da história precisa tanto de dinheiro para as próximas eleições? Jair Bolsonaro e Luciano Bivar são as chaves de leitura para a crise atual. Afinal, não foram as investigações da Polícia Federal que tornaram Bivar uma persona non grata para o presidente da República – se fosse assim, o ministro do Turismo, também enrolado em denúncias de uso de candidaturas laranjas, não seguiria no cargo.
Bolsonaro, assim como o guru Olavo de Carvalho e os filhos Eduardo e Carlos, sofre de uma paranoia doentia: é capaz de acreditar em qualquer teoria da conspiração. Todos viram inimigos, todos estão contra ele. Por isso, não basta ser presidente: é preciso interferir no Congresso, nas eleições municipais e no que mais for possível. A passagem tumultuada no Exército e conflituosa por oito partidos políticos (empatando com Ciro Gomes) demonstra que fidelidade e disciplina não são os fortes do presidente.
Luciano Bivar, por outro lado, bancou a candidatura de Bolsonaro no partido, apostando alto nas possibilidades eleitorais e deixando de lado as ressalvas do movimento Livres, os primeiros dissidentes incompatíveis com Bolsonaro – muito antes de Gustavo Bebianno e Alexandre Frota. Bivar pode ter acreditado numa promessa de gratidão e não interferência por parte do capitão da reserva, que precisava de uma legenda para ser catapultado como presidenciável. Oportunistas dos dois lados da briga se deram muito bem até os interesses divergirem. MBL, Dória e o Novo que o digam…
Curiosamente, ao contrário do que analistas têm apontado, o racha do partido não significa necessariamente enfraquecimento de Bolsonaro. Convenhamos, dar a liderança do PSL na Câmara para o filho é menos desgastante do que dar a embaixada dos Estados Unidos. E trocar a agressiva deputada Joice Hasselmann da liderança do governo no Congresso pelo senador centrista bem relacionado entre os colegas, Eduardo Gomes, pode ser lido como um ganho político.
Se alguma lição precisa ser tirada da eleição passada é que, pelas costas ou não, o bolsonarismo se fortalece quando dá e recebe facadas.
Gáudio Bassoli, mestre em Comunicação pela UFMG e Apoio Técnico do Gris
*Por isso o título desta análise fazendo referência a um bordão da série, “winter is coming”.