Análise | Poder e Política

O Poderoso Paizinho

Para superproteger os filhos, Jair Bolsonaro compromete seu governo até mesmo entre sua base social e parlamentar.

Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

Na relação com os filhos – superprotegidos porque o pai sente culpa por não tê-los criado, segundo o ex-apoiador Lobão – Jair Bolsonaro compromete desavergonhadamente a delicada e importante separação entre interesse público e privado. No terceiro casamento, o candidato “da família” parece defender apenas a própria. Ou nem isso…

“Muitos confundem o excesso de proteção aos filhos com demonstração de amor, sem compreender as consequências que esse tipo de comportamento pode ter na vida dos filhos”, nos informa a escola da inteligência. Atraso no desenvolvimento, dependência emocional, isolamento social e dificuldade de lidar com frustrações são alguns dos possíveis resultados da superproteção.

Carlos Bolsonaro, que teria a relação afetiva mais próxima (e conflituosa) com o pai, é descrito por antigos apoiadores e por adversários como paranoico, possivelmente homossexual reprimido, e chantageador emocional. Pivô da demissão do ministro Bebiano, o vereador do Rio se comporta como príncipe do Brasil, ofendendo generais e pegando carona vez ou outra no carro presidencial.

Flávio Bolsonaro e seu rolo com Queiroz virou pedra no sapato do “lavajatismo”, a tal ponto que a pressão do senador contra a CPI da Lava-Toga fez sair do PSL a “Moro de saias”, Selma Arruda. O pai de Flávio interviu na Polícia Federal, no próprio Coaf e na Procuradoria-Geral da República, protegendo o filho e desautorizando o “super-ministro” Sérgio Moro, conforme visto neste GrisLab.

Mas nada é mais humilhante para o país do que a indicação do fritador de hambúrguer de lanchonete que não vende hambúrguer para embaixador dos Estados Unidos. Surpreende que apenas 70% da população rejeitem a indicação de alguém que mal sabe falar inglês.

Eduardo, o “menino” advertido quando disse que um cabo e um soldado fechariam o Supremo, o inseguro que precisa mostrar a arma até em visita ao pai no hospital, o deputado que discursa distorcendo uma famosa frase de Winston Churchill, agora tenta passar a imagem de próximo ao presidente dos Estados Unidos. Só o jantar da comitiva do 03, como é chamado pelo pai, custou mil dólares ao povo brasileiro. Sai caro confundir políticas de Estado com relações de governo e interpessoais.

“Não quero submeter meu filho a um fracasso”, disse o presidente quando cogitou retirar a indicação de Eduardo. O mesmo presidente que, por pirraça, diz que o filho poderia até ser chanceler caso não se torne efetivamente embaixador no país mais endinheirado do mundo…

A má criação do filho deveria ser um problema particular de Messias, mas foi arrastada para o contexto de uma decisão estratégica para o país. Quando se trata de um chefe de Estado, o interesse público deve se sobrepor aos interesses do progenitor de dar filé mignon para a cria. Queimando seu capital político, o poderoso paizinho não leva seu país a sério e nos impede de sermos levados a sério. O Senado deve pará-lo, exercendo o freio e contrapeso democrático. 

O Brasil é uma nação soberana. Não um negócio de família.

Gáudio Bassoli, mestre em Comunicação pela UFMG e Apoio Técnico do Gris



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