Análise | Poder e Política

Os brasileiros que negam a história alheia

Em vídeo publicado nas redes sociais pela Embaixada Alemã sobre o combate ao Holocausto os inúmeros ataques postos nos comentários afirmam o cenário de polarização que vivemos hoje no Brasil.

Fonte: Reprodução Twitter

Na primeira semana de setembro, a Embaixada Alemã no Brasil lançou um vídeo em suas redes sociais com a intenção de conscientizar sobre como se deve ensinar a história do Nazismo. No vídeo, o órgão explica que na Alemanha, o estudo sobre a II Guerra Mundial e o período nazista é iniciado nas escolas desde cedo para que algo parecido ou igual ao governo ditatorial de Adolf Hitler não se repita. Também enfatiza que fazer saudações que façam referência ao período do Holocausto é considerado crime grave no país.

Porém, com a publicação do “vídeo aula”, diversos comentários foram postados fazendo acusações e afirmações absurdas, entre estas, a de que o Nazismo foi um movimento político de esquerda e também que o Holocausto nunca existiu, e se aconteceu, não foi nas proporções apresentadas ao mundo. Tais comentários, questionavam a veracidade da postagem da Embaixada Alemã, e em muitas delas faziam saudações e elogios ao ditador Hitler.

A repercussão do que era para ser apenas um vídeo explicando e levando conhecimento para a população brasileira sobre o maior genocídio da história mundial recente, tomou proporções de apoio ao regime extremista alemão da segunda metade do século XX, e trouxe à tona uma série de questões que estamos vivendo hoje.

A primeira delas é perceber que vivemos em tempos sombrios de negação do passado vivido, e o pior de tudo, um passado sombrio, imerso no autoritarismo e com governos ditatoriais com o nome manchado de sangue e que tinham em suas bases o desrespeito e extermínio do diferente. Ver brasileiros tentando ensinar para os alemães o que foi o Nazismo, pondo em questão a existência do Holocausto, é verificar a extrema falta de conhecimento histórico, ou por que não dizer, da ignorância e ausência de humanismo que vem tomando conta das pessoas em nosso país.

Outro ponto importante a ser levantado, é o de que estamos vivendo atualmente, uma tendência de retorno dos movimentos políticos de extrema-direita que tentam através do silenciamento do grande mal causado por acontecimentos históricos, como o Holocausto na Alemanha e a Ditadura Militar no Brasil, eleger governos centrados no fascismo, na xenofobia, no racismo, na homofobia e de ideais que defendem a redução dos direitos populares e extermínio dos diferentes.

Então, olhar para as reações ao vídeo publicado pela Embaixada Alemã, nos faz perceber que devemos estar atentos e vigilantes para que a tentativa de apagamento da história não nos faça reviver o lado mais obscuro do passado.

Lívia Barroso

Professora da Unifesspa e pesquisadora do Gris.



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