Análise | Poder e Política Questões regionais

Ranking do Enem

E a educação no Nordeste é mais uma vez acontecimento

O Ministério da Educação (MEC) divulgou no início do mês de agosto as notas por escola do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com as melhores e piores instituições de ensino médio do país. Isto seria como em todos os anos se as 10 melhores escolas públicas não estivessem localizadas numa das regiões mais pobres e com elevado índice de analfabetismo, o Nordeste.

A Escola Estadual de Educação Profissional Padre João Bosco de Lima, de Mauriti, no Ceará, aparece em 1° lugar no ranking das escolas públicas de ensino médio. Foto: Reprodução/Facebook.

A Escola Estadual de Educação Profissional Padre João Bosco de Lima, de Mauriti, no Ceará, aparece em 1° lugar no ranking das escolas públicas de ensino médio. Foto: Reprodução/Facebook.

O Enem vem sendo realizado desde o ano de 1998, com o intuito de avaliar a qualidade do ensino médio no País. Nos dias atuais, a nota do exame também é uma das principais formas de acessar as universidades públicas brasileiras (federais e estaduais), concorrer a bolsas de estudo total ou parcial em faculdades particulares e de ingressar em algumas instituições de ensino superior no exterior.

Com base nas notas conseguidas no exame, anualmente o MEC divulga o ranking com os resultados obtidos por cada escola, tornando público as melhores e piores instituições. Por anos consecutivos as melhores instituições, tanto as privadas como as públicas, estiveram localizadas no centro-sul do país, o que apontava uma má qualidade no ensino nas regiões Norte e Nordeste, que sempre ocupavam as últimas posições. A exceção era uma escola particular no Piauí que sempre esteve entre as 10 melhores, o que não interferia na posição geral do Estado, já que as demais não pontuavam positivamente.

Porém, a publicação do ranking das melhores escolas públicas referente ao exame do ano de 2014 divulgado recentemente virou um acontecimento. De acordo com os dados do Enem, o Nordeste é a região com as melhores escolas públicas brasileiras. Sendo que, quando avaliadas as condições de número de alunos (mais de 90 no último ano de Ensino Médio) e com perfil econômico baixo, as 10 melhores escolas estão na referida região.

O que chama a atenção é que a região Nordeste foi durante séculos considerada a parte mais pobre do Brasil e até o final da década de 1990 os índices de analfabetismo cresciam anualmente, vindo a ter uma queda considerável dos anos 2000 para cá. Mesmo com este decréscimo é a região com maior número de jovens e adultos que não sabem ler e escrever, concentrando 54% do total de analfabetos do país (mais da metade são pessoas idosas com mais de 60 anos).

Os dados do Enem/2014 ocuparam todos os noticiários e se tornaram um acontecimento porque rompem com as expectativas e desorganizam as representações sobre a educação no Nordeste, que por décadas foi presente e mostrada na mídia como sendo a pior do Brasil.

Este acontecimento aponta que o Nordeste vive atualmente um processo de melhoria considerável na educação, o que parece ser resultado de investimentos públicos no ensino básico e, principalmente, do avanço socioeconômico das famílias, que segundo o IBGE teve o maior crescimento em 2014 dos últimos 20 anos.   Aponta e reafirma, também, o quanto a ação de instituições e políticas públicas podem ser decisivas para reverter índices assustadores e, o mais importante, transformar vidas e realidades sociais.

Veja abaixo o ranking das dez melhores escolas públicas dentro dos critérios do Inep (grande porte, indicador de permanência de mais de 80% e que atendem alunos de nível baixo ou muito baixo):
1°) Escola Estadual de Educação Profissional Padre João Bosco de Lima, do Ceará

2°) Escola de Ensino Fundamental e Médio Dep. Cesário Barreto Lima, do Ceará

3°) Escola de Referência em Ensino Médio Coronel João Francisco, de Pernambuco

4°) Escola de Referência em Ensino Médio João Pessoa Souto Maior, de Pernambuco

5°) Escola de Referência em Ensino Médio Barão de Exu, de Pernambuco

6°) Escola de Referência em Ensino Médio Padre Antônio Barbosa Júnior, de Pernambuco

7°) Colégio Estadual Pedro Calmon, da Bahia

8°) Colégio Estadual Dr. Milton Dortas, de Sergipe

9°) Escola de Referência em Ensino Médio Senador Nilo Coelho, de Pernambuco

10°) Escola de Referência em Ensino Médio Manoel Guilherme da Silva, de Pernambuco.

 

Lívia Barroso

Doutoranda do PPGCOM/UFMG e pesquisadora do Gris.



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