Análise | Especial

Retrospectiva 2018 Grislab

Em 2018 comemoramos o quinto ano de atividade do GrisLab, o nosso Laboratório de Análise de Acontecimentos. Durante o ano, publicamos 104 análises, dentro de 14 categorias temáticas distintas, das quais Poder e Política foi a mais expressiva, compondo aproximadamente 45% do total de análises publicadas do ano.

Assim como em 2017, o ano foi marcado por acontecimentos políticos, sobretudo aqueles relacionados ao maior acontecimento de 2018: as eleições presidenciais. Jair Bolsonaro, eleito em novembro deste ano, foi objeto de análise em sete textos, que cobriram desde sua participação no programa Roda Viva em agosto, o atentado de que foi vítima no final de setembro até outros assuntos correlatos, como o projeto Escola sem Partido, a turnê de Roger Waters no Brasil e a saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos. Ainda na categoria Poder e Política, o segundo assunto mais analisado pelo Laboratório foi a prisão de Lula e as consequências que se seguiram à sua detenção na sede da PF, em abril deste ano. Cobrimos, ainda, a morte de Marielle Franco, em março, e os consecutivos retrocessos do governo Temer.

A segunda temática mais frequente no GrisLab foi Gênero e Sexualidade. Em um ano marcado por centenas de denúncias de assédio sexual em instituições importantes no contexto cultural contemporâneo, como o entretenimento, o esporte e a religião, nossas(os) pesquisadoras(os) analisaram com frequência acontecimentos que demonstram a triste recorrência com que a violência sexual e de gênero ainda afeta mulheres célebres e anônimas em nossa sociedade. Além disso, estes e outros acontecimentos demonstraram a força da mobilização política das mulheres, sobretudo no movimento #EleNão e Ni Una a Menos, que floresceram neste ano.

As categorias Internacional e Morte figuram em terceiro lugar em número de análises, ambas abarcando oito textos durante o ano. No que tange aos assuntos internacionais, a mobilização feminina também se destacou, logo no início do ano, com o Globo de Ouro 2018, que teve a premiação marcada pela manifestação das atrizes do meio hollywoodiano em apoio às diversas vítimas de abuso sexual na indústria do entretenimento. A maioria das  artistas presentes no evento, utilizando-se da visibilidade internacional conferida pelos tapetes-vermelhos, desfilaram em vestidos pretos, atraindo a atenção internacional para a causa.

Ainda na categoria Internacional, analisamos o encontro histórico entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. A reunião diplomática obteve visibilidade mundial principalmente devido à questão de uma possível guerra nuclear – ambos os políticos vinham causando instabilidade internacional ao adotarem uma postura combativa e até mesmo beirando a infantilidade, direcionando provocações mútuas através de publicações em suas contas do Twitter. A descriminalização do aborto na Argentina, aprovada no dia 14 de junho, rendeu duas análises no GrisLab, ambas estabelecendo relações entre a pauta feminista no Brasil e no país vizinho: enquanto as argentinas avançaram na conquista de direitos, as mulheres brasileiras ainda seguem rumo a esta conquista. Ainda foram objetos de análise o endurecimento das medidas contra a imigração nos Estados Unidos e a difícil situação política e econômica da Venezuela após a reeleição do presidente Nicolás Maduro.

Na categoria Morte, a maioria das análises desenvolvidas foram relacionadas ao assassinato de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson. Marielle era relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública da cidade. Também foi analisada a morte de Tatuagem, morador da ocupação do prédio Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, em São Paulo. O prédio em que viviam 400 famílias foi incendiado e Tatuagem resgatou vizinhos e suas crianças, antes de morrer no desabamento do prédio em chamas. A perda de duas celebridades também foi tema de análises: a morte da cantora Aretha Franklin e de Stan Lee, um dos criadores da Marvel.

Por fim, observando as análises publicadas na categoria de Celebridades e Figuras públicas, percebemos a coesão entre a emergência dessas figuras no cenário nacional com  os outros assuntos que apareceram com mais frequência no GrisLab, sobretudo as questões políticas/eleitorais e de gênero: a briga entre Eduardo Costa e Fernanda Lima motivada por um discurso feminista feito pela apresentadora em seu programa; a presença de mulheres célebres no movimento #EleNão, as (novas) denúncias de agressão por parte do Cantor Biel, as vítimas do Dr. Bumbum e os pequenos gestos simbolizantes de mudanças no cenário da família real inglesa.

No ano passado, nossa retrospectiva teve como foco a exposição das perdas sofridas ao longo dos meses, sinalizando que os impactos seriam sentidos ainda neste ano de 2018. E não só sentimos o impacto das perdas no campo da política e dos direitos humanos, como amargamos outras, maiores e mais avassaladoras; com elas, estamos sendo convocados à luta e à resistência. O GrisLab seguirá, em 2019, com este espírito – que, de certa forma, sempre orientou nossa escrita –, evidenciando, mais do que nunca, a importância do olhar atento para os acontecimentos que constroem nossa história.

Mayra Bernardes
Mestranda em Comunicação pela UFMG

Pedro Paixão

Graduando em Jornalismo pela UFMG

Camila Meira

Graduanda em Jornalismo pela UFMG



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