Análise | Poder e Política

“Sentido!”: há algum?

Governo federal: cada vez mais membros oriundos do meio militar e falas bizarras que não param.

Acontecimentos revelam sentidos. O general Walter Braga Netto foi designado para ocupar o cargo de ministro da Casa Civil no lugar de Onyx Lorenzoni, deslocado para o Ministério da Cidadania. Braga Netto ganhou notoriedade no comando da intervenção militar do Rio de Janeiro, ao final do governo Temer. Mais um integrante oriundo do meio militar ancora a administração em valores como segurança, disciplina e integridade para certos públicos, enquanto para outros gera temor quanto a uma guinada autoritária.

Ex-integrantes das Forças Armadas parecem entender a necessidade de manter separada a imagem de suas instituições de origem e as contendas políticas. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, deu entrevista dizendo que eventuais acertos e erros do governo não devem ser creditados ao Exército. O próprio Braga Netto, que estava na ativa, antecipou a aposentadoria. E outro acontecimento, que merece parágrafo à parte a seguir, recebeu um comentário do general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-integrante do governo: “IRRESPONSABILIDADE Exército Brasileiro — instituição de Estado, defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população.”

Santos Cruz criticou, com o tuíte reproduzido acima, o uso da imagem de generais em montagem de convocação de ato pró-governo. A convocação é resultado do desentendimento do general Augusto Heleno com o Congresso Nacional em função do orçamento. “Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”, disse Heleno, durante a cerimônia de hasteamento da bandeira, no Palácio da Alvorada.

Sintoma de pouca habilidade política, arte de negociar e entrar em acordo sem se corromper ou aceitar chantagem, a fala do general soa bizarra vinda de quem tem um cargo no Executivo e foi eleito com um discurso “anti-venezuelização”.

Mas justiça seja feita: em matéria de falas bizarras, os civis do governo superam os militares. Só nas últimas semanas, além de “domésticas indo para a Disney”, que merecerá uma análise neste GrisLab, o ministro da educação disse que o ENEM do último ano foi o mais bem-sucedido, mesmo com os erros de correção e a quebra do principio da imparcialidade do próprio ministro, prestando informações via Twitter a um pai apoiador. O secretário de cultura foi demitido após gravar vídeo com discurso nazista e tomou posse Regina Duarte, confundindo santos e recebendo puxão de orelha por tratar como apoiadora quem não é. A ministra da família e direitos humanos propôs abstinência sexual no carnaval, declaração que virou piada — rendendo até marchinha vencedora de concurso em BH. A mesma Damares apoiou o direito de greve de policiais, vedado pela constituição.

O Brasil deve ter mesmo nos próximos dias mais protestos pró-governo, insuflados por publicações de Whatsapp. Faz sentido um protesto a favor do governo? Governar não é o bastante e querem ainda mais?

Gáudio Bassoli, Mestre em Comunicação Social pela UFMG



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