Inaugurada no último dia 10 de março pelo Governo Federal, a obra do eixo leste da transposição do rio São Francisco tem gerado esperança para os sertanejos que sofrem com a seca e polêmica entre os que questionam os impactos causados pela mega obra. O maior projeto de infraestrutura hídrica já posto em prática vem marcando a história do País.
A primeira menção para a realização da transposição vem do período imperial, quando dom Pedro II fez a proposta com o intuito de acabar com as constantes secas no semiárido nordestino. Depois, a ideia só volta à pauta no governo de Getúlio Vargas no Estado Novo, e reapareceu como uma das primeiras propostas do governo de João Figueiredo, na época da Ditadura Militar.
Após a redemocratização no final da década de 1980, a proposta de reintegrar as águas do “Velho Chico” com outras bacias hidrográficas do sertão voltou a ser discutida nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, mas nunca saiu do papel. Foi somente em 2007 que as obras foram iniciadas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ganhando impulso nos governos de Dilma Rousseff com a realização de mais de 72% da obra, e a inauguração coube ao atual presidente Michel Temer.
Com 87% do projeto executado, as águas do rio São Francisco chegam às cidades e comunidades rurais do semiárido do Nordeste. A esperança começa a brotar para os sertanejos que viram a história de várias gerações se repetir, uma realidade marcada pela escassez de água e por todas as consequências disso. Para quem sente na pele a maior estiagem dos últimos 50 anos na região, ao ver chegar as águas trazidas pela obra de integração, enxerga um oásis em meio ao solo de terra rachada e ao ocre que domina a paisagem que não vê chuva com regularidade a mais de 5 anos.
Mas, com a reverberação do acontecimento da inauguração de parte da obra, diversas polêmicas sobre os impactos ambientais causados pela transposição retornaram à mídia. Ainda em 2003, quando o então presidente Lula autorizou a elaboração do projeto de integração da bacia do São Francisco, muitos se posicionaram contra, alegando que era preciso fazer uma revitalização das matas ciliares da nascente e de trechos desmatados ao longo do curso do rio, assim como ter uma preocupação com o assoreamento e a poluição. Essas são questões que devem ser debatidas para que todo o investimento do projeto tenha um bom retorno tanto para a população quanto para o rio.
Uma coisa é certa: cuidar do Velho Chico é necessário, independente da transposição! Mas, se a transposição é uma opção de amenizar o sofrimento de tantas pessoas que vivem no sertão, por que não fazê-la? O que resta à população e ao governo é saber usar essas águas e, acima de tudo, ter uma gestão responsável e consciente para que possa viver o São Francisco e os que precisam dele.
Lívia Barroso
Doutoranda do PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do Gris