Uma semana antes das eleições de 1o turno, o BurgerKing lançou uma campanha publicitária diferente e chamou a atenção do grande público. A proposta não era falar sobre comida, e sim sobre política – um tema que, aparentemente, nunca esteve tão presente na boca, nos telefones e no cotidiano dos brasileiros.
É impressionante a rapidez com que, de repente, nos tornamos uma sociedade apaixonada pelo debate público. Em 2013, ainda não sabíamos bem as causas da nossa insatisfação, mas afirmamos, em coro, que não era apenas pelos 20 centavos. Em 2015, voltamos às ruas, já separados por cores, supostamente mais conscientes da situação. No ano seguinte, alguns se recolheram na privacidade dos lares – e de suas panelas – para acompanhar o rito do Impeachment, que outros tantos já viam como golpe. Foi tudo muito rápido; incorporamos no nosso dia a dia conversas sobre decisões do STF, regimentos do Congresso, termos jurídicos usados em tribunais.
Construímos uma cultura política etérea, espalhada entre nichos de redes sociais, conversas domésticas e mensagens instantâneas de whatsapp. Os temas políticos entraram na esteira do consumo midiático junto com outros assuntos diversos. Pautas coletivas importantes parecem banalizadas e os debates gerados, como consequência, são tão superficiais quanto os conteúdos que são consumidos numa rapidez absurda. O período eleitoral acalorou a circulação dessas mensagens e a publicidade, como sempre, aproveitou o cenário polarizado para inserir as marcas nos diálogos que mobilizam uma população de consumidores. Muitas empresas saíram com a imagem prejudicada na tentativa de se posicionarem partidariamente. Mas não foi o caso do BurgerKing. Em vez de defender uma ideia vinculada a um partido, ou candidato, a rede de sanduíches usou o intervalo do debate entre elegíveis à presidência na TV aberta para provocar o público quanto à importância do voto. A empresa instalou uma urna em frente à loja da Av. Paulista e as pessoas podiam escolher se votavam em alguém, ou em branco. No fim da enquete, o BK ofereceu aos eleitores um hambúrguer nitidamente ruim, com a mensagem: este é o Whooper em Branco, um sanduíche com ingredientes escolhidos por outra pessoa. Quando alguém escolhe no seu lugar, não dá para reclamar do resultado. Logo após a exibição do vídeo, as redes sociais foram tomadas por opiniões sobre o comercial. No geral, as pessoas aprovaram a forma como a marca usou seu espaço publicitário para alertar a sociedade em um momento tão importante. O comercial soou como um gesto de cidadania e, nesse contexto, a empresa atingiu seu objetivo institucional – ganhou visibilidade e credibilidade. Além de destacar a oportunidade criada pela marca, a ação também é válida para observarmos como a publicidade vem conquistando um novo papel social nesses tempos turbulentos. Assim como a política, o jornalismo, há tempos, foi incorporado na produção da indústria midiática (onde a publicidade sempre esteve) e, talvez por isso, seja cada vez mais complexo gerar reflexões a partir de conteúdos desenvolvidos por algum jornal. Curiosamente, enquanto o jornalismo é contestado, o valor da publicidade parece se alterar na medida que, cada vez mais, empresas e agências são cobradas pelo público quanto à relevância que suas comunicações possuem e à forma como elas são reverberadas socialmente. Dessa vez o BurgerKing acertou e , aparentemente, foi um ato construtivo. No entanto, em essência, esse cenário comprova como a sociedade está confusa e vivendo um processo de grandes reformulações. Fernanda Medeiros Doutoranda em Comunicação Social pela UFMG
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