“Mais livros, menos armas”: manifestações em defesa da educação refletem insatisfação com medidas do governo Bolsonaro.
25 de abril de 2019. O ministro da educação, Abraham Weintraub, segundo titular da pasta desde o início da gestão presidencial de Jair Bolsonaro, comentou no Twitter que trabalharia para redirecionar os recursos da educação superior para “fins mais produtivos”.
30 de abril. O ministro da educação anuncia a redução de verbas de três universidades federais (Universidade Federal Fluminense-UFF, Universidade Federal da Bahia-UFBA e Universidade de Brasília-UnB), relacionando o corte dos recursos a baixo desempenho e a “balbúrdia”. Na noite deste mesmo dia, depois de inúmeras críticas, o Ministério da Educação (MEC) informa que o bloqueio de 30% na verba das instituições de ensino federais valeria para todas as universidades e institutos do país. Mas os cortes também atingem a educação básica.
15 de maio. Os anúncios, associados a declarações do ministro que desqualificam a atividade pedagógica e a uma série de outras atitudes do gestor, motivaram a realização de uma grande manifestação, o #15M ou #TsunamiPelaEducação. O movimento, que paralisou atividades em instituições de ensino de todo o país, mobilizou estudantes, professores, pais de alunos e outras categorias – cerca de 2 milhões de pessoas – em pelo menos 200 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal. No mesmo dia, os manifestantes são chamados de “idiotas úteis” e “massa de manobra” pelo presidente da república.
30 de maio. No restante do mês, o bloqueio dos recursos na educação foi alvo de questionamentos no Legislativo e objeto de ações judiciais, porém, permaneceu mantido, e, associado a tantas outras medidas e declarações do governo federal, como a proposta de reforma da previdência e o decreto presidencial que flexibiliza regras para posse e porte de armas no Brasil, fez a nova manifestação, convocada para o fim do mesmo mês, ser em proporção similar à anterior.
A prática do contingenciamento ou bloqueio de recursos não é uma novidade adotada por esta administração – os governos de Dilma e Temer também utilizaram tal recurso em tempos de crise econômica. A reação da sociedade também não é inédita, mas agora acontece em escala mais significativa, sugerindo que não se deu “apenas” por conta do corte de recursos, mas também por toda a sequência de atitudes e declarações do ministro da educação em relação à pauta, que coloca em questão a importância e o desempenho dos alunos e das instituições, e pela própria fragilidade e instabilidade demonstradas em relação à proposição de políticas públicas para o setor.
Outras medidas adotadas pelo governo ao qual o ministro pertence, que fragilizam o setor público em vários âmbitos e fortalecem discursos de ódio em detrimento do conhecimento e da emancipação, também funcionam como motor da insatisfação popular para ir às ruas contra a atual gestão. A reforma da previdência, que aumenta a idade mínima e piora as condições de aposentadoria para todos a sociedade, é uma das pautas que se soma à lista das insatisfações, e leva entidades sindicais a convocarem uma greve geral no país para amanhã, dia 14 de junho.
Para além disso, a priorização da educação é uma das poucas pautas em torno da qual convergem políticos de divergentes espectros. Ainda que não seja efetivada na prática, ela é frequentemente mencionada nas plataformas de campanha, seja pela possibilidade de profissionalização e ingresso no mercado de trabalho, seja pelos avanços que podem ser alcançados, em todos os âmbitos, em virtude de pesquisas científicas e do acesso ao conhecimento. As manifestações de maio de 2019 fazem emergir não poucas possibilidades de compreensões.
Cecília Bizerra Sousa
Doutoranda em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do Gris