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Eleições municipais em BH: equações do porvir

No último domingo, 15 de novembro, tivemos o resultado das eleições municipais de BH, realizadas em meio a uma pandemia de escala global. Enquanto a reeleição de Alexandre Kalil não foi uma surpresa, é preciso entender o efeito que a pandemia teve nas campanhas eleitorais, e equacionar o porvir que se desenhou com a eleição recordista de dois fenômenos ideológicos antagônicos e das herdeiras do legado que será deixado pela atual legislatura.

Foto: Moisés Teodoro / BHAZ

Pela primeira vez na história do Brasil, uma eleição direta aconteceu em meio a maior crise sanitária do nosso tempo, transformando as campanhas eleitorais pelo país. Em Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) foi o vencedor com 63% dos votos, e, mesmo com grande aparato eleitoral, optou por deixar seu trabalho falar por si, cumprindo pouquíssimas agendas de campanha.

Enquanto as medidas de distanciamento social facilitaram que Kalil pudesse continuar voando alto no cenário eleitoral, nas campanhas para a vereador(a), elas foram um desafio a mais. Em uma das eleições mais disputadas da história da cidade, onde 1,5 mil pessoas se candidataram ao cargo de vereador(a), ganhar visibilidade e conquistar eleitores sem promover aglomerações e tendo as redes sociais como principal ferramenta eleitoral foi um trabalho árduo para os candidatos e candidatas. Por esse viés, os eleitos pouco surpreendem: são pessoas conhecidas dentro de suas “bolhas” e que, em sua maioria, mobilizam opiniões e afetos na esfera pública digital

Exemplo disso são os dois fenômenos eleitorais desta eleição municipal: a professora e ativista trans Duda Salabert (PDT), eleita com 37 mil votos, e o youtuber bolsonarista Nikolas Ferreira (PRTB), eleito com 29 mil votos. Em um cenário político polarizado, vemos, nessas votações recordistas, a repetição dos embates ideológicos da política nacional: de um lado, o campo bolsonarista, que se elege insuflando pautas de ataque aos direitos humanos e à diversidade, e, de outro, o campo de esquerda que responde a esses ataques alçando aos cargos eletivos figuras de grande força simbólica: mulheres trans, negras, LGBTs e ativistas que conquistam a simpatia do eleitorado por meio de discursos voltados para suas identidades e experiências de vida numa sociedade marcada por múltiplas opressões e desigualdades

Entretanto, o cenário político do legislativo ainda é nublado e dependerá do poder de negociação e adequação dos eleitos à lógica institucional da Câmara Municipal, que teve uma renovação de 58%. Do campo de esquerda, que perdeu a vaga ocupada pelo PCdoB, só duas das vereadoras eleitas possuem experiência com a política institucional – Bella Gonçalves (PSOL), reeleita para o cargo de vereadora que ocupa desde a saída de Áurea Carolina para a Câmara dos Deputados, e Macaé Evaristo (PT), eleita vereadora após uma extensa trajetória como gestora e secretária de educação nos governos de Fernando Pimentel e Márcio Lacerda. No campo da direita também vemos alguns novatos e mulheres que chegam à Câmara para dar continuidade ao trabalho de membros de suas famílias, como é o caso de Marli Aro (PP) e Flávia Borja (AVANTE)

É importante observar também, nessa equação do porvir eleitoral, o legado que a atual legislatura deixará para a próxima. Sem dúvida, uma das transformações mais relevantes deixadas, além da eleição de quase três vezes mais mulheres para o parlamento, é a inserção de mais mandatos coletivos na composição da Câmara, que, além da Gabinetona, atualmente formada por Cida Falabella (PSOL) e Bella Gonçalves (PSOL), terá também as co-vereanças de Sônia Lansky (PT) e Gabriel Azevedo (PATRIOTAS). No cenário prático, o clima que será deixado é bélico, e há grandes desafios pela frente: as novas vereadoras terão que lidar com o segundo turno de pautas-bomba, como a reforma da previdência dos servidores municipais e o projeto de lei Escola Sem Partido, além troca da presidência e composição das comissões parlamentares.

Mayra Bernardes, doutoranda em Comunicação do PPGCOM/UFMG. Pesquisadora do GRIS e do Coragem



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