A imprensa internacional observa, atônita e apreensiva, o desenrolar das Eleições 2018 no Brasil. Um olhar apenas estrangeiro, ou a experiência de quem já vem lidando com fenômenos populistas de extrema-direita? |
The New York Times, The New Yorker, The Economist, Washington Post, The Guardian, Financial Times, Der Spiegel, BBC, El País, Público, Le Monde, entre outros. A relação de veículos jornalísticos estrangeiros que está se esforçando em tentar compreender as Eleições 2018 no Brasil é extensa – e também o é a enumeração de adjetivos que utilizam para descrever as diversas facetas do candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro: uma “ameaça”, “repulsivo”, “assustador”, “desastroso”, “ofensivo”, “intolerante” e “pior que Trump”.
O tom geral da cobertura internacional é de apreensão, e o foco é inevitavelmente em Bolsonaro. Num editorial publicado no dia 21 de outubro, Brazil’s sad choice, o New York Times fala que a eleição dele seria “um dia triste para a democracia”. Além disso, a política ambiental do candidato do PSL (ou a ausência de uma) é um grande temor: afinal, o desmatamento da Amazônia causaria uma afetação global, diz o jornal. O Washington Post foi bem claro: “Bolsonaro é a pior coisa que pode acontecer para o meio ambiente”. O The Economist, “a bíblia dos liberais”, dedicou uma matéria de capa ao que chama de “a última ameaça da América Latina” e não poupa críticas ao seu estilo autoritário e inexperiente: “muitas reformas são necessárias. Bolsonaro não é o homem para realizá-las”.
Inevitáveis paralelos são feitos com Donald Trump. O Der Spiegel aponta que, para além das similaridades na retórica, Bolsonaro se comunica primariamente por Twitter e Facebook e despreza a imprensa tradicional. O The New Yorker aponta uma relação com outros movimentos ascendentes ao redor do mundo, como a Frente Nacional encabeçada por Marine le Pen, na França, e Rodrigo Duterte, das Filipinas. E, assim como no resto do mundo, creditam essa ascensão a crises econômicas e políticas aproveitadas por populistas que posam como a “solução”.
Para além desses avisos que essa mídia internacional nos faz, que por si só chamam muita atenção dos riscos que corremos, uma outra questão nos intriga. A reação por parte dos brasileiros não é unânime: uma parte, preocupada com a democracia e as instituições do nosso país, se inquieta e já vem falando a mesma coisa. A outra parte aponta uma “ameaça comunista” que estaria por trás de todos esses veículos de comunicação. Seria engraçado, se não fosse tão trágico, um brasileiro chamar o The Economist de comunista, logo o jornal do berço do neoliberalismo. Essas reações estão presentes em redes sociais como Twitter, Facebook e WhatsApp, e em vez de atentarem no que é falado, fazem chacotas e declaram o voto ao Bolsonaro como se fosse uma pirraça, ou um protesto. Todos esses meios de comunicação foram tachados de esquerda, e outras pessoas que se posicionaram contra ou de maneira crítica ao candidato do PSL levaram o mesmo rótulo. A razão sucumbiu à ignorância.
A imprensa internacional ousou, num certo sentido, ao fazer o que os jornais brasileiros ainda se recusam: classificar Bolsonaro como um político de extrema-direita e tendências fascistas. Talvez seja a experiência adquirida ao lidar com o sempre imprevisível Donald Trump, que pegou os jornalistas desprevenidos há dois anos atrás. E agora, num déjà vú paradoxal, temos um presidenciável que fala quando e o que quer, sem acarretar nenhuma consequência, além de fabricar e distribuir suas próprias verdades seguindo seus interesses. Isso nos faz indagar sobre qual será o ponto de flexão onde a mídia brasileira começará a tratar Jair Bolsonaro com os substantivos e adjetivos que lhe cabem. Bom, não podemos falar que não fomos avisados.
Vera França
Coordenadora do GrisLab e Professora Titular do PPGCOM-UFMG
Pedro Paixão
Graduando em Jornalismo pela UFMG
Paulo Basilio
Mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas