O ar está pesado a ponto de sufocar as palavras. Mesmo assim, arriscamos uma análise.
Oito notas de turmas da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), duas notas de turmas da Aeronáutica , uma de turma da Marinha… O total parece ter sido de (ironia numérica) 13 notas de militares da reserva. Em 15 dias. Tudo para defender outra nota, que falava em “consequências imprevisíveis”. A nota do noteiro General Heleno.
A nota original depois foi explicada, na linha “não é bem assim”, falando que não quer golpe, intervenção, que vai viabilizar o trabalho de jornalistas agredidos… O noteiro corre o risco de soar democrático: até quando foi ofender adversário via Twitter, admitiu que Adélio é inimputável. Os mandantes da facada são apenas vozes nas cabeças não arejadas…
Do outro lado, dito “progressista”, já virou piada a fabricação recorrente de notas de repúdio. Semana passada chegamos ao inacreditável de um manifesto que não consegue sequer ser assinado por todos os convidados. E não faltam bons motivos tanto para justificar a recusa quanto para o constrangimento gerado pela recusa. Mas, más notas, manifestos e recusas não fazem diferença. O que faz diferença são as consequências.
Do lado que veste amarelo e se fantasia de brasileiro, o que faz diferença mesmo é a disposição para agredir, e – em última instância – matar e morrer pelo líder. Do outro, o lado que sofre as consequências de ser brasileiro, o que faz a diferença é a reação de quem se cansou de ser morto ou se solidariza com que é morto cotidianamente – a ponto de também se aglomerar em meio à pandemia. Ventos antifascistas vindos do Norte chegaram.
Eduardo Bolsonaro disse que “não é uma questão de se, é uma questão de quando”. Apesar do recuo retórico, de dizer que “isso aí já passou”, o pior é que ele quase acertou. Por que não é uma questão de quando: é uma questão de agora. A defesa das instituições tem seu valor, a defesa do interesse dos trabalhadores também (sendo uma miopia terrível de todos os que não veem a relação de ambas), mas nada importa mais agora do que defender o direito essencial de respirar, essa respiração que – para muitos – não é ameaçada só pelo vírus no ar.
As más notas não fazem diferença. Seja no porão de uma ditadura, seja asfixiado embaixo de uma perna, após tiros em casa ou uma queda do 9º andar na democracia, o que faz diferença é oxigênio nos pulmões.
Gáudio Bassoli, mestre em Comunicação Social pelo Gris/UFMG