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As meteóricas ascensão e queda de Wilson Witzel: solitário, o governador carioca amarga seu pior momento

A abertura do processo de impeachment de Wilson Witzel é analisada tendo-se por referência suas meteóricas ascensão e queda. Surfando na onda bolsonarista que mudou o cenário político brasileiro, o governador carioca vê sua carreira definhar após acusações de corrupção para o regozijo dos bolsonaristas.

Witzel e Bolsonaro, em maio de 2019. Foto: Ricardo Moraes / REUTERS

Antes de encerrada a apuração das urnas do primeiro turno das eleições 2018, Wilson Witzel (PSC) já aparecia com a surpreendente primeira posição do pleito. Com 41,2% dos votos, passou para o segundo turno com o experiente ex-prefeito da capital, Eduardo Paes (DEM). O ex-juiz foi beneficiado pelo efeito Bolsonaro, como ficou conhecido o fenômeno pelo qual candidatos que receberam ou declararam apoio ao atual presidente acabaram recebendo expressiva votação em 2018. Esse fenômeno foi responsável por ampla renovação no Executivo e no Legislativo. Em Minas Gerais e São Paulo, por exemplo, Romeu Zema (NOVO) e João Dória (PSDB) também fizeram parte da mesma onda bolsonarista.

No entanto, o oportunismo de tais alianças não tem resistido ao tempo. Os governadores João Dória e Wilson Witzel se transformaram em inimigos públicos do presidente e acumulam casos de críticas e desagravos ao presidente da República. Destino parecido ganharam lideranças e parlamentares do partido que ofereceu abrigo a Jair Bolsonaro para que saísse candidato em 2018: o presidente do Partido Social Liberal (PSL), Luciano Bivar, e a deputada paulistana, Joice Hasselmann, também se tornaram alvo das críticas e fúria digital do clã Bolsonaro e de suas milícias digitais.

Um cenário bem mais dramático, porém, tem enfrentado o governador do Rio de Janeiro: após ser alvo de denúncias de corrupção em sua gestão, Witzel foi alvo de abertura de processo de impeachment pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e, em 28 de agosto, foi afastado do cargo pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, decisão posteriormente confirmada pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, por 14 votos a 1. Em 24 de setembro, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou, por unanimidade, o prosseguimento do processo de impeachment do governador. Com isso, o poder legislativo do estado também confirma o afastamento de Witzel (já determinado pelo STJ), e o processo entra numa nova fase: instala-se uma comissão mista, composta por cinco deputados estaduais e cinco desembargadores para conduzir o processo. Ambos os órgãos já indicaram os membros da comissão que será conduzida pelo presidente do TJRJ. A primeira reunião do colegiado, marcada para 1º de outubro, onde será escolhido o relator do processo, também dá início à contagem do prazo de 120 dias para a conclusão dos trabalhos.

As denúncias que pesam sobre Witzel estão sendo investigadas no âmbito das operações Favorito e Placebo, conduzidas pelo Ministério Público Federal e que investigam irregularidades em contratos emergenciais de prestação de serviços para o governo do Estado, especialmente, nas áreas de saúde e educação. O governador é acusado de receber mais de 500 mil reais de propina por meio do escritório de sua esposa, Helena Witzel.

Interessado em disputar as eleições para presidente da República em 2022, desde o início de sua gestão, Witzel tem sido percebido como adversário pelo clã Bolsonaro. O governador passou, então, a criticar as declarações irresponsáveis do presidente, marcadas pelo tom agressivo e preconceituoso e pela mentira. A relação azedou de vez quando o presidente da República acusou o governador do Rio de vazar informações sigilosas das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido em março de 2018. Segundo Bolsonaro, Witzel estaria interessado em “destruir” a família Bolsonaro ao ligá-la ao crime.

O avanço das investigações contra o governador do Rio, comemorado pelos bolsonaristas, tem levantado suspeitas sobre o uso político da Polícia Federal pelo presidente. Mas não é só isso. O revés jurídico enfrentado por Witzel também é visto sob o mesmo prisma: juízes, desembargadores e ministros poderiam estar interessados nas futuras vagas que serão abertas no Supremo Tribunal Federal. Agradando o mandatário do país nas ações judiciais de seu interesse direto ou de seus adversários, os magistrados podem ser agraciados com uma indicação para a suprema corte. Em ano eleitoral e com a popularidade do presidente ganhando novo reforço na sociedade, não surpreenderia se aumentarem as fileiras de bajulação e de reconciliação com o mandatário caudilho.

Mas a ascensão e queda meteóricas de Witzel sinalizam bem o que significa a aliança com Bolsonaro: ela vale enquanto atende e se mantém nos moldes impostos por ele.

Frances Vaz, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (UFMG)
Vera França, professora titular de Comunicação Social da UFMG e coordenadora do GrisLab



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