Nelson Teich foi o segundo a deixar o cargo de Ministro da Saúde, onde ficou em menos de um mês. Sem uma nomeação oficial para a pasta em meio à pandemia, o Brasil enfrenta, além da crise sanitária, uma crise política.
O Brasil é o segundo país do mundo com mais casos confirmados do novo coronavírus, atrás apenas dos EUA. No último dia 22/05, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a América do Sul o novo epicentro da pandemia. Não fosse assustador o suficiente, pesquisadores apontam que a subnotificação é tamanha que a estimativa chega a mais de 3 milhões de casos — cerca de dez vezes mais que os oficializados pelo Ministério da Saúde até o fechamento desta análise e o dobro dos casos estadunidenses. Entretanto, a crise da saúde pública segue não parecendo uma prioridade para o presidente Jair Bolsonaro, cujo governo está sem um ministro titular para a Saúde no momento em que a população mais precisa da atuação de um ministério com uma política clara e amparada pela ciência.
Nelson Teich, o segundo ministro da saúde em três meses de pandemia, deixou o cargo no dia 15 de maio, antes de completar um mês de sua nomeação. Assim como o antecessor Luiz Henrique Mandetta, Teich não estava totalmente alinhado com os posicionamentos do presidente em relação à pandemia, o que novamente gerou tensões no ministério. Entre as discordâncias, estão a flexibilização do isolamento social, ampliada e apressada por Bolsonaro, e o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19 — medicamento cuja eficácia contra o vírus não foi comprovada, mas no qual Bolsonaro vêm se agarrando desde que Donald Trump, presidente dos EUA, apontou o remédio como solução.
A saída de Teich teve reações majoritariamente negativas entre entidades, autoridades e políticos de diversos partidos, principalmente devido à sensação de instabilidade, insegurança e descaso passada pelo governo federal no enfrentamento da pandemia. O descompromisso com a ciência, a falta de avanços diante da crise sanitária com tantas trocas de equipe, a transferência de responsabilidades e falta de auxílio federal para instâncias estaduais e municipais são algumas das principais críticas feitas ao governo Bolsonaro com a demissão do ministro. Como motor delas, a postura infantil, zombeteira, egocêntrica, cínica, irresponsável e negacionista do presidente, que mais se ocupa em criar novos problemas enquanto a população é enterrada aos montes em valas comuns.
Um novo ministro ainda não foi anunciado. Enquanto isso, quem assume interinamente a pasta é o General Eduardo Pazuello, um paraquedista sem experiência na área da saúde. Pazuello já nomeou outros nove militares para cargos no ministério. No último dia 20 de maio, o Ministério da Saúde lançou um novo protocolo para o uso da cloroquina, autorizando a prescrição para casos leves e inclusive para que o medicamento seja utilizado em casa por quem possuir sintomas do vírus. O termo de consentimento destinado aos pacientes afirma que “não existe garantia de resultados positivos para a Covid-19” e que os efeitos colaterais podem levar ao óbito.
A demissão de Teich evidencia, mais uma vez, que as escolhas de Bolsonaro são primordialmente ideológicas, mesmo quando podem ser fatais. Valores como a solidariedade, a prudência e até mesmo a preservação da vida e da família perdem-se em detrimento da soberba e da incompetência do presidente. Sua política temerária para o ministério da Saúde, a indiferença às milhares de vidas perdidas e a total omissão para garantir auxílios sociais e econômicos a amplas faixas da população, cuja sobrevivência foi profundamente afetada pela pandemia, geram a sensação de um país à deriva. Ficam as incertezas sobre o futuro da saúde coletiva e das vidas de milhões de brasileiros, os quais não encontram no governo federal uma posição segura e confiável que considere o peso de suas consequências.
Maria Helena de Pinho, estudante de Graduação em Jornalismo pela UFSC, bolsista de Iniciação Científica/CNPq