Análise | Poder e Política

Essa pauta é boa, Andrea?

Em meio a uma extensa crise política, a prisão de Andrea Neves chama atenção dos brasileiros para a relação entre o poder político e a esfera midiática. O acontecimento aponta para um dos valores mais celebrados da Modernidade – a liberdade de imprensa – e oferece uma reflexão acerca de nosso passado, presente e futuro.
Foto: Cristiane Mattos/Reuters

Foto: Cristiane Mattos/Reuters

No dia 18 de maio, Andrea Neves foi presa. Esta simples frase traz em si um acontecimento de muita potência não só para os mineiros, mas para todo o país. Centrado em um contexto político instável, o ocorrido foi capaz de chacoalhar o sistema político e o entendimento dos brasileiros de seu próprio presente.

Se, de um lado, muitos assistiram à prisão da irmã de Aécio com espanto, do outro houve quem reivindicasse sentimento de justiça. Essa configuração de públicos revela o poder de afetação do acontecimento, tal como Louis Quéré o caracteriza. Dentre os públicos que esse acontecimento específico deu a ver, destacamos os jornalistas mineiros como os principais afetados. O jornal O Tempo publicou um vídeo revelador neste sentido, ao mostrar Andrea sendo presa e uma jornalista (atrás das câmeras) a interpelando: “Essa pauta é boa, Andrea?”

Ao irromper o contínuo da experiência coletiva, a prisão de Andrea iluminou questões de extrema importância para a sociedade brasileira, como a liberdade de imprensa e as relações de poder entre os meios de comunicação e a política. Como desdobramento, o jornal on-line O Beltrano publicou um edital convocando os jornalistas que já tiveram pautas censuradas. Segundo o jornal, “o objetivo é incentivar a produção de tais pautas censuradas. E, com isso, dar visibilidade a temas que, por anos, foram proibidos em Minas, combater a censura e contribuir para a liberdade de imprensa.

A profusão de sentidos causada por esse acontecimento foi tamanha que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais declarou o dia 18 de maio como o Dia da Liberdade de Imprensa em Minas. A partir deste quadro, se um passado de censura é revelado; espera-se que um futuro um pouco mais livre comece a ser desenhado.

Maria Lúcia de Almeida Afonso
Mestranda do PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do GRIS



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