Ainda que praticamente invisíveis na grande mídia, atos de amor na Lapa, em frente ao STF e nos mercados públicos estão acontecendo.
Olê, olê, olê, olá…. O que será que vai se passar?
Não sabemos qual será a situação do Brasil daqui a dois meses, daqui a quatro meses. Teremos tido eleição? Teremos tido uma eleição minimamente democrática? Lula, o candidato com o maior percentual de preferência eleitoral, terá podido se candidatar? Terá sido libertado?
Vivemos não apenas um momento crucial de nossa história – mas também um momento de absoluta e certamente rara indefinição. A próxima eleição promete ser ainda mais acirrada e tensa do que a de 2014. Não sabemos o que irá se passar – assim como não sabemos em que mãos está o nosso destino. Nos últimos tempos, tem sido nas mãos nada limpas do Congresso Nacional e, sobretudo, nas mãos viscosas do Judiciário – todos, em maior ou menor medida, fantoches do dinheiro.
A prisão de Lula e a talvez impossibilidade final de sua candidatura não se traduziram em grandes mobilizações, em atos de revolta e de enfrentamento por parte do imenso contingente da população brasileira que pretende votar no ex-presidente. Atos extremos de violência, como tiros na Caravana de Lula em março deste ano e outras formas de agressão, costumam partir de uma direita raivosa. Essa não é a forma de ação dos seus apoiadores: ainda que descontentes com a prisão do ex-presidente, não foram a Curitiba “tomar a Bastilha”. Mas atos simbólicos de apoio e de resistência se fazem ouvir aqui e ali.
Em vários pontos do país – em frente ao STF, em Brasília; no Mercado Central, em Belo Horizonte; na feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro; em frente ao prédio da Polícia Federal, em Curitiba; no mercado público de Porto Alegre – Fabiano Leitão, um trompetista solitário, toca. O que começou com uma manifestação nas chamadas ao vivo da Globo hoje faz ecoar o grito que está em muitas gargantas.
No dia 28 de julho, nos arcos da Lapa, Rio de Janeiro, milhares de pessoas se ajuntam para cantar “Lula livre” em um festival organizado por vários artistas. Chico Buarque e Gilberto Gil não se curvam ao “cale-se”; Flávio Renegado lembra que quem é amigo, e quem é guerreiro, fica na hora do perigo. E o ator Herson Capri dá voz ao Lula ausente: onde querem silêncio, continua-se cantando; a esperança equilibrista tem asas – amanhã há de ser um outro dia.
A aposta na esperança é ainda mais alta para alguns. Em Brasília, seis militantes de movimentos populares iniciaram no dia 31 de julho uma greve de fome em frente ao Supremo Tribunal Federal, pedindo a liberdade de Lula e denunciando a volta da fome no Brasil. Vilmar Pacífico, Jaime Amorim, Zonália Santos, Frei Sérgio Görgen, Rafaela Alves e Luiz Gonzaga (Gegê), numa ação organizada pelos movimentos que integram a Via Campesina Brasil, nesse protesto extremo, traduzem o sentimento de injustiça e a disposição de resistência que motivam os movimentos sociais que eles representam.
Assim como o Festival Lula Livre e o som do trompete de Fabiano Leitão, esse acontecimento, no entanto, praticamente não apareceu na grande mídia – e não chega ao conhecimento de grande parte da população brasileira. Estará sensibilizando os juízes e juízas do STF?
É pouco provável; não é esta a força que os move, eles parecem mais preocupados com os salários e auxílios moradia da categoria. Mas esses atos de solidariedade, mesmo pouco repercutidos, deixam seu recado: o recado de uma esperança que se equilibra em corda bamba e acredita num outro dia que virá.
Vera França
Professora Titular de Comunicação Social pela UFMG e coordenadora do GrisLab