Donald Trump venceu as eleições nos EUA para a presidência e assume em janeiro de 2017. Algumas reverberações deste acontecimento e o que indica num contexto atual, são abordadas nesta análise.
Assim como casamentos da monarquia, megaeventos esportivos ou catástrofes ambientais, a eleição presidencial estadunidense é um acontecimento, no sentido mais evocativo da palavra. Durante a disputa de 2016 acompanhamos candidaturas caírem; prévias de votações; manifestações de apoio de eleitores, celebridades e do atual presidente Barack Obama; artigos e mais artigos defendendo/criticando um dos lados; entrevistas de Donald Trump dizendo barbaridades; vazamento de e-mails de Hillary Clinton, entre várias outras fases da eleição.
As pesquisas, antes disputadas, na reta final indicavam Hillary Clinton como futura presidente dos EUA com percentuais de 70 a 90. Grande parte dos meios de comunicação declararam abertamente seu apoio à candidata democrata. Os cientistas políticos afirmavam categoricamente que Trump só ganharia em um cenário muito improvável. Pois o improvável não só se tornou possível, como aconteceu no dia 09 de novembro.
“Verificando-se a emergência de um acontecimento, as suas relações com os processos que o precederam tornam-se condições ou causas. Uma tal situação é um presente. Ela delimita, e num certo sentido selecciona, o que tornou possível a sua particularidade. Ela cria, devido ao seu carácter único, o seu passado e o seu futuro.” (QUÉRÉ, 2005, p.62)
Na ânsia de descobrir as causas e condições que elegeram Trump, vários fatores foram colocados em xeque: a Ciência Política “que falhou em prever os dois eventos mais definidores de nossa era”[1] (incluindo a saída da Grã-Bretanha da União Europeia nesta conta); as pesquisas eleitorais[2] com previsões muito distorcidas; os mandatos de Obama e Bill Clinton; claro, a concorrente Hillary. Nas análises do ocorrido, o que se viu foram tentativas de compreensão do que se passou, como ele conseguiu chegar lá.
Numa análise anterior[3], em maio, sobre a nomeação de Donald Trump, já apontávamos um discurso conservador em voga, encontrado em seu apoiadores. Também destacamos o avanço da extrema-direita europeia com ressonância em outros lugares do mundo, na tentativa de localizar o fenômeno do famoso-político ao lado de outros fenômenos parecidos.
Mais do que descobrir o que causou a eleição do republicano Trump, que compreendemos ser um somatório de fatores conjugados, é importante observar o que este acontecimento nos dirá dos tempos em que vivemos. Algumas possibilidades vislumbradas são os discursos de candidatos se afastando do rótulo de políticos (Kalil em BH e Doria em SP seguiram o mesmo caminho nas eleições municipais); o conservadorismo não mais latente; a onda de medo das alteridades e diferenças (imigrantes, negros, latinos, gays, religiões de matriz africana) e as reações a esse medo que incluem ódio, desrespeito, violência e segregação.
Um acontecimento, ao abrir um campo de possibilidades, ‘e agora?’, também fala do futuro. A importância geopolítica do país gera preocupação para o mundo como um todo: como ficam as relações com Putin, da Rússia? E os acordos de paz? Como Trump lidará com a economia americana e os parceiros comerciais? O que não faltam são perguntas para os EUA com Trump no poder.
* Tornar a América grande/ótima de novo, numa tradução livre.
[1] https://sotonpolitics.org/2016/11/11/the-failures-of-political-science-trump-brexit-and-beyond/
[2] http://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2016/11/09/o-que-aconteceu-nas-pesquisas-da-eleicao-nos-eua-esta-acontecendo-na-sua-empresa.html e http://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2016/11/10/trump-complexidade-e-a-jornada-do-eleitor.html
[3] http://grislab.com.br/politica/eleicoes-nos-eua-donald-trump-e-a-ascensao-da-extrema-direita/
Laura Lima
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG
Pesquisadora do Gris
Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de novembro, definido em reunião do GrisLab.