Análise | Poder e Política Questões socioambientais

O capital financeiro fica esverdeado

A pressão sofrida pelo governo Bolsonaro por parte de grandes conglomerados econômicos reflete um momento em que o capital financeiro, por causa de pequenos acionistas com princípios ecológicos, assume um discurso ambiental para manter a alta de suas ações no mercado financeiro.

Imagem: reprodução / Aktion Campact

Em 10 de julho, na agenda do vice-presidente Hamilton Mourão, havia dois compromissos com pauta ambiental. O primeiro era uma videoconferência com a Associação PanAmazonica, Ong formada por grupos empresariais baseados na Amazônia Continental. O segundo, com o CEBDS – Conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável, a ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio e a IBÁ – Indústria brasileira de Árvores, que reúne os setores industriais da produção de pisos e painéis de madeira, celulose, papel e florestas energéticas.

Os encontros trouxeram a preocupação de grandes empresas brasileiras, de variados setores econômicos, com o extrativismo do bioma amazônico e, principalmente, com a imagem ambiental do Brasil no exterior. O fato rendeu duras críticas à política ambiental do governo, sobretudo em relação à postura do ministro da pasta, Ricardo Salles, levando a uma recomendação de sua destituição do cargo público.

O acontecimento que ganhou notoriedade na imprensa nacional e no exterior foi o fato de que as reclamações não foram impulsionadas por lobby ou pressões empresariais, mas por causa da preferência de pequenos acionistas em investir em ações de instituições que tenham preocupação ambiental. Isso motivou a preocupação e intervenção das grandes empresas brasileiras que tiveram receio em perder o valor de suas ações junto ao mercado financeiro.

Os sentidos produzidos por esse acontecimento mostram que a ideologia ambiental ganhou espaço no mercado financeiro, dialogando com o neoliberalismo em sua linguagem, a do capital fictício. A fala tem a força de influenciar nas mudanças das políticas públicas ambientais.

Até o momento, o ato mais explícito tomado pelo governo federal foi a proibição de incêndios na Amazônia brasileira. Vale lembrar que há quase um ano, no dia de 10 de agosto de 2019, foi o momento em que as queimadas aumentaram espantosamente na Amazônia legal e, como corolário, dizimaria um total de 29.944km do bioma, o equivalente a 4,2 milhões de campos de futebol. O dia do fogo, como a data ficou conhecida, foi a convergência de embates entre a política do novo governo brasileiro naquele momento e o capitalismo extrativista contra dados científicos do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e organizações de proteção ao meio ambiente.

Esse acontecimento evidencia que as preocupações ambientais estão em pauta no âmbito do neoliberalismo, forçando conglomerados empresariais e governos com agenda neoliberal a repensarem práticas e políticas para que grandes grupos do setor madeireiro, alimentício e extrativista tenham ganhos no ambiente dos mercados de ação.

Jociene Carla Bianchini Ferreira Pedrini, professora do PPGCOM da UFMT Campus Cuiabá e do curso de Jornalismo da UFMT Campus Araguaia. Doutora em Educação, mestre em Comunicação, jornalista e licenciada em Letras



Comente

Nome
E-Mail
Comentário