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O desastre político nas falas esdrúxulas dos ministros de Bolsonaro

O discurso carregado de preconceitos, teorias conspiratórias e informações falsas que marcam a trajetória política de Jair Bolsonaro se repete em seus ministros: tem sido marca do atual governo as falas bizarras expressas orgulhosamente por seus integrantes, evidenciando ideias e ações políticas nefastas.

Foto: Reprodução/Twitter

Muitos comportamentos e falas de ministros do governo Bolsonaro chegam a ser surreais de tão bizarras e grotescas, além de problemáticas pelos conteúdos que carregam. Tais posturas geram grande repercussão na mídia e nas redes sociais e revelam muito das crenças, posicionamentos  e políticas defendidas pelos governistas.

Uma das figuras mais controversas do governo, que vem construindo fama justamente por seus ditos,  é a pastora evangélica Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A religião tem sido, fundamentalmente, o guia dos posicionamentos da ministra acerca de assuntos variados. O conservadorismo de Damares nas questões de gênero é o principal alvo de críticas de setores mais progressistas da população, que em parte veem as falas da ministra como um tipo de cortina de fumaça para desviar a atenção de ações concretas do governo.

Com relação a aborto, a ministra já disse que “a gravidez é um problema que só dura nove meses”  e, para evitá-lo, chegou a defender um projeto apelidado de “Bolsa Estupro”: um auxílio de R$ 85,00 mensais pagos pelo estuprador à gestante estuprada. Sobre casamento, Damares falou que “o homem é o líder” e a mulher “submissa ao homem” – posteriormente argumentando que se trata de sua crença. Mas a frase que mais circulou pela internet foi a de um vídeo em que ela, ao assumir o ministério, comemora que “é uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”. Aparentemente bizarra e risível, a frase é transfóbica no país que é considerado o que mais mata travestis e transexuais no mundo.  Damares é uma das únicas mulheres ministras do governo Bolsonaro (a outra é Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a qual afirmou que os brasileiros não passam muita fome porque “temos mangas nas nossas cidades”). Mas, ao contrário de representatividade, acaba cumprindo o papel que dela esperam o governo Bolsonaro e seus apoiadores: sustentar uma agenda de ataques a conquistas e direitos femininos e LGBTs de forma mais admissível, principalmente para outras mulheres conservadoras, já que não carrega o estereótipo de homem machista, mesmo com discurso semelhante.

Além das discriminações, o negacionismo científico e revisionismo histórico é outra marca característica do atual governo, evidenciada em muitas falas e posicionamentos. Um dos porta-vozes do anticientificismo é Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores. Além de negar que houve um golpe no Brasil em 1964 e dizer que “fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda”, o chanceler difunde paranoias antimarxistas e se vê como um herói contra o “marxismo cultural”, teoria da conspiração bastante popular nos círculos de extrema-direita. Para o ministro, o marxismo é, inclusive, responsável por tramar o aquecimento global, do qual ele duvida pois “não há um termostato que meça a temperatura global” e o asfalto quente pode interferir na medição.

Propagar esse tipo de desinformação, deslegitimando a ciência e a história, é também fortalecer as tentativas de censura e desmonte da educação no Brasil, especialmente nas universidades públicas, que vêm sendo atacadas nesse governo desde a gestão de Ricardo Vélez no MEC e agora com Abraham Weintraub como ministro, conforme mostra análise já realizada aqui no GrisLab. Weintraub tentou explicar os cortes de recursos destinados às universidades e institutos federais fazendo uma metáfora com chocolates: errou nas contas e foi desmentido por nota do próprio Ministério. Em 30/05/2019,  ele ironizou o dia de manifestação nacional em favor da educação, publicando em sua conta do Twitter um vídeo com um guarda-chuva, em alusão ao filme “Singing in the rain”, para difundir a notícia falsa de que havia uma “chuva de fake news” contra o MEC. A falta de compostura de Abraham Weintraub e de respeito mínimo ao cargo que ocupa reverberou também em 27/06/2019, quando se manifestou, via Twitter, sobre a prisão na Espanha de um militar brasileiro com 39 quilos de cocaína em avião presidencial da FAB: “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”.  Criticado não apenas por parte da esquerda, mas também por figuras de direita como o banqueiro e ex-candidato à presidência João Amoedo e o colunista Rodrigo Constantino, Weintraub rebateu ao seu estilo autoritário e infantil, dizendo não querer “gente chata e de esquerda” em seu perfil, que alega ser estritamente para postagens pessoais. 

Reforçando pública e ostensivamente velhos papéis sociais, discriminações e preconceitos, justificando ou tergiversando sobre  violências e crimes, disseminando desinformação ou estimulando a ignorância, as falas públicas de governistas vão além do bizarro e do surreal. Escancaram o retrocesso das ideias e políticas que sustentam as ações do governo Bolsonaro e as consequências trágicas para as quais elas apontam, especialmente para quem tem menos meios de remediar os ataques sofridos.

Maria Helena de Pinho, estudante de Graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista de Iniciação Científica/CNPq.

Terezinha Silva, professora do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).



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