O inusitado prêmio na loteria e o absurdo plano de assassinato nos bastidores do poder brasileiro.
As últimas semanas no Brasil ganharam ares de realismo fantástico. Do prêmio do PT ao plano de Janot, as manchetes jornalísticas mais parecem ficção do que relato de fatos.
O bolão premiado de assessores do PT, que receberam R$ 120 milhões da Mega-Sena, foi um acontecimento no sentido de romper o cotidiano, a normalidade. A probabilidade de acerto no jogo é de uma em mais de 50 milhões. Sonho de vários brasileiros, o prêmio acabou nas mãos dos assessores parlamentares do partido mais amado e odiado do país, para o desgosto – e, em alguns casos doentios, para a paranoia – de rivais e inimigos políticos. Para os simpatizantes do PT, ficou a sensação de – enfim – alguma satisfação de ver o absurdo finalmente virar casaca.
Falando em absurdo, ele tem passeado bastante nos tribunais. Por lá, parece que até mesmo os paladinos da moral e da lei andam errando muito a mão, fervendo o sangue por muito pouco, se tornando sedentos de vingança.
Foi o caso do ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Faltou equilíbrio não só no suposto episódio em que ele entrou armado no STF (Supremo Tribunal Federal) disposto a matar Gilmar Mendes e depois se suicidar, mas também na própria revelação do fato à imprensa. Essa revelação pode ter sido uma jogada de marketing para vender livros, mas – com o perdão do trocadilho – o tiro saiu pela culatra. Janot não só passou a ser suspeito, e derramar a suspeição em suas intervenções como procurador, como inspirou outro colega inconsequente a atacar uma juíza.
Quem diria que, em plena era Bolsonaro, as Loterias da Caixa pagariam um prêmio milionário para assessores do PT? E quem poderia imaginar que o ex-PGR, um dos responsáveis por assegurar o cumprimento da lei, cogitou o extremo de matar e tirar a própria vida? Entre o inusitado e o absurdo, o Brasil segue surpreendendo.
Gáudio Bassoli, mestre em Comunicação Social pela UFMG e Apoio Técnico do Gris