O ano de 2018 terminou com várias surpresas, uma delas foi o escândalo envolvendo a família a Bolsonaro, o “bolsogate”. Contrastando com o tratamento dado a fatos envolvendo Lula e o PT, as movimentações “atípicas” do ex-assessor de segurança de Flávio Bolsonaro e a transferência de cheque para a primeira dama parecem caminhar para o esquecimento.
No dia 6 de dezembro do ano passado explodiu o “bolsogate”, quando o jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria sobre relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda), que indicava movimentações bancárias “atípicas” na conta de Queiroz, membro do gabinete de Flávio Bolsonaro, então parlamentar estadual. O fato foi detectado no bojo da Operação Furna da Onça, subsidiária da Lava-Jato, que prendeu dez deputados estaduais do Rio de Janeiro por corrupção. De acordo com o jornal, Queiroz, que é amigo da família Bolsonaro há mais de 30 anos, movimentou 1,2 milhões de reais no período de um ano, valor considerado suspeito tendo em vista o seu nível de rendimento. Além disto, foi identificado também um depósito no valor de 24 mil reais na conta de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama.
Segundo o Conselho, os depósitos na conta de Queiroz coincidem com as datas de pagamento dos salários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Conforme o documento, nove outros assessores de Flávio Bolsonaro transferiram dinheiro para a conta do motorista e assessor de segurança.
Toda essa movimentação gerou uma pequena investigação pelo MPRJ, o qual convocou Queiroz para depor 2 vezes e não obteve nenhuma resposta. O motorista afirmou problemas de saúde tentando justificar sua ausência nos depoimentos marcados. Apesar disso, dia 26 de dezembro Queiroz deu entrevista ao SBT – o que não ajudou a esclarecer o ocorrido nem a melhorar sua situação.
Várias são as explicações dadas por membros da família para essas movimentações; o próprio Jair Bolsonaro falou sobre o caso se referindo a um empréstimo, Eduardo Bolsonaro mencionou a compra de carro, informação confirmada pelo assessor em entrevista ao SBT.
No Twitter as reações são variadas. Muitas pessoas cobram uma explicação por parte da família, até mesmo para terem o que falar para defenderem seu candidato, agora presidente. Outros usuários desacreditam dos meios de comunicação e ainda afirmam que “ninguém é perfeito” ou usam frases como “intriga da oposição”. Mas há também os que cobram esclarecimentos e providências. Muitas questões estão em aberto; o próprio assessor não informou o hospital em que foi atendido, o nome do médico que fez a consulta, e maiores detalhes sobre a doença que impediu seu comparecimento às convocações do MPRJ (seria um câncer, não se sabe bem em que órgão, e ainda não comprovado por exames).
O caso está em aberto e não há sinal dos órgãos competentes para levar adiante as investigações. Aliás, a novidade é que um dos um dos primeiro atos do presidente empossado foi transferir o Coaf para o Ministério da Justiça, agora comandado por Sérgio Moro, e proibir declarações à imprensa por parte de seus técnicos. O órgão responsável pela “denúncia” do bolsogate agora está sob as rédeas do juiz que foi tão ávido na perseguição e encarceramento de Lula – aliás, o maior concorrente de Bolsonaro nas urnas.
Estranhamente, pouco se fala sobre as transações; o assunto não é tocado nas entrevistas, é evitado pelos eleitores de Bolsonaro, que demonstram pouca conhecimento e interesse sobre o acontecimento. O ex-juiz Sérgio Moro, agora Ministro da Justiça, não se manifestou, tampouco o Ministério Público, num contraste muito forte com o posicionamento que adotam quando os fatos dizem respeito a Lula ou dirigentes do PT.
Nas redes sociais, pessoas e setores críticos a Bolsonaro, bem como a imprensa não hegemônica reclamam providências e denunciam a discrepância no tratamento dado a este acontecimento. Mas essas vozes parecem não encontrar nenhum eco. Queiroz – e o bolsogate – estariam caminhando para o esquecimento?
Paulo Basílio
Mestrando em Comunicação pela PUC Minas