Análise | Acontecimentos outros Especial

Retrospectiva 2019 GrisLab

O sexto ano de atividade do nosso Laboratório de Análise de Acontecimentos mantém tendência dos dois últimos anos: Poder e Política continua sendo o que mais nos faz falar. Em 2019, análises com essa temática representam 45% do total, curiosamente a mesma porcentagem que no ano passado. Coincidências numéricas à parte, é notório que a política factual têm bombardeado a vida cotidiana.

1º trimestre

O ano de 2019 começou bastante agitado. Logo no início, o país sofreu com a perda do jornalista Ricardo Boechat — que faleceu em um acidente aéreo. Na política, o então deputado Jean Wyllys abdicou do posto e se autoexilou, devido a perseguições políticas. Mas os temas políticos não pararam por aí:

  • Ao longo do trimestre a família Bolsonaro se envolveu em várias polêmicas. Em janeiro, o GrisLab analisou o “bolsogate” (escândalo envolvendo movimentações bancárias atípicas na conta de Queiroz, membro do gabinete de Flávio Bolsonaro e amigo da família). Já em Abril, Bolsonaro foi acusado de se envolver com milícias (principais suspeitos do assassinato de Marielle Franco);
  • No fim de janeiro ocorreu o primeiro grande desastre ambiental do ano (que viria a ser bem sofrido para a mãe natureza, diga-se de passagem):o rompimento da barragem de rejeitos Córrego do Feijão, atingindo o município de Brumadinho e alcançando o Rio Paraopeba. Hoje, 11 meses após a tragédia, 13 pessoas continuam desaparecidas e o número de mortos passa de 250. Por isso, em fevereiro nossa equipe fez um #DossiêBrumadinho e analisou o acontecimento.

Ainda nesse início de ano, no campo do entretenimento, diversos artistas globais envolveram-se no que ficou conhecido como “escândalo de Noronha”. Além disso, tivemos a volta da dupla Sandy e Junior — o que fez a galera vibrar e lotar estádios pelo país.

2º trimestre

Nos meses seguintes o país continuou a enfrentar crises políticas e crimes de violência:

  • Em Abril, Evaldo Rosa teve o carro metralhado por 80 tiros enquanto  ia com a família a um chá de bebê, no Rio de Janeiro. Também no Rio, a população sofreu com as chuvas e a falta de infraestrutura da cidade;
  • Em Maio o país parou. Mais de 2 milhões de pessoas foram para as ruas, protestar pela educação. No mês anterior o governo havia anunciado que redirecionaria os recursos da educação superior para “fins mais produtivos”. Em seguida, o ministro da educação anunciou a redução de verbas de três universidades federais (da Bahia-UFBA, de Brasília-UnB e Fluminense-UFF), relacionando o corte dos recursos ao baixo desempenho e à “balbúrdia”. A reação da população foi intensa: dois atos nas ruas acompanhados de greves gerais, o que ficou conhecido como #15M e #30M;
  • No âmbito internacional, houve a prisão de Julian Assange — criador do site WikiLeaks. Além disso, Lula completou um ano de prisão.

No campo do entretenimento tivemos o fim de duas sagas cinematográficas: Game Of Thrones e Vingadores. No campo da ciência,  foi tirada a primeira foto de um buraco negro — o que revelou a importância da colaboração no trabalho científico.

3º trimestre

Ainda no começo da segunda metade do ano, dois fortes episódios pareceram decretar de vez 2019 como ano de absurdos políticos e chagas socioambientais:

  • No final de agosto, a parcialidade e a imoralidade do processo que levou à condenação de Lula em 2018 vieram à tona. Encabeçadas por Moro e Dallagnol, tramoias jurídicas foram reveladas pelas publicações de The Intercept Brasil;
  • No especial Vaza Jato, sobre esse acontecimento, observamos também o insensato enquadramento do caso por uma parte da imprensa ao direcionarem a problematização para uma suposta invasão da privacidade das autoridades;
  • Sem muita pausa para fôlego, incêndios se alastraram na Amazônia no mesmo período. As análises sobre esse cenário evidenciaram, de um lado, a “negligência ofensiva” por parte do governo e, de outro, a comoção internacional;
  • Nesse último caso, as diversas manifestações de celebridades nos levaram a refletir sobre ativismo e oportunismo. As relações diplomáticas também foram estremecidas.

Ocorreram ainda, nesse terceiro trimestre, as mortes do jornalista Paulo Henrique Amorim e do artista João Gilberto. Mas o campo da arte também foi marcado pela censura: as ameaças do poder público a Ancine, por exemplo, continuam reverberando.

A temática gênero e sexualidade esteve presente, vinculada sobretudo aos movimentos sociais e ativismo da Marcha das Margaridas e eventos do orgulho LGBT+. Protestos contra o bloqueio de recursos da educação e ciência também se inseriram no escopo de análises dessa época.

 4º trimestre

Passados dois meses do ápice dos incêndios na Amazônia, vimos a história se repetir em novo baque socioambiental. Atingido pelo óleo, o litoral brasileiro sofreu duplamente: a dispersão desesperadora do material somou-se à conhecida negligência do governo. E a união das populações atingidas para limpar o perigoso problema recebeu grande destaque da mídia.

Pauta presente por diversos fatores na esfera pública ao longo do ano, as questões raciais foram bastante abordadas nos últimos meses:

  • Dois casos de tortura de jovens negros em estabelecimentos comerciais em São Paulo foram analisados, bem como a truculência policial em baile funk em Paraisópolis, na mesma cidade, já no início de dezembro. Nesse último, nove vítimas morreram e ainda houve casos de difamação delas através de fake news;
  • Na semana do Dia da Consciência Negra, duas análises compuseram um especial sobre o tema, evidenciando e problematizando casos de racismo: no futebol e em um preconceituoso processo seletivo para vaga de cuidador de idosos em Belo Horizonte;
  • a nomeação feita por Bolsonaro (e agora já suspensa) para a presidência da Fundação Palmares também estampa essa temática: o nomeado era negro, filho de militante do movimento negro e, no entanto, não só diz não acreditar no racismo, como declara em redes sociais ser contrário a símbolos e conquistas históricos da população negra.

A liberdade para Lula veio nos meses finais do ano, resultante direta dos debates em torno da constitucionalidade da prisão em segunda instância no Supremo Tribunal Federal. A decisão do STF, vale lembrar, também veio acompanhada por disseminação de fake news nas redes sociais sobre seus efeitos.

Já no âmbito internacional, o destaque foram as análises sobre o contexto latino-americano, marcado por protestos. Nesse sentido, duas reflexões profundas buscaram sistematizar as especificidades e temporalidades dos acontecimentos recentes na Colômbia e na Bolívia: “é tempo de perguntar e aprender”.

E de continuar a lutar e resistir — reafirmando a máxima do ano passado.

Samuel Silveira, bacharel em Comunicação Social pela UFMG e Apoio Técnico do Gris
Evelly Lopes,  graduanda em Publicidade e Propaganda na UFMG e bolsista de Iniciação Científica pelo GrisLab



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