Análise | Poder e Política

Temer x Temer – ou como a crise política afeta o governo Temer

“O plano Temer”, “As apostas de Temer”, “A solução Temer”. Frases como essas foram capas de revistas e de certa forma influenciaram na chegada de Temer até o poder. No entanto, novas notícias podem atrapalhar seu governo. Áudios envolvendo o presidente e um empresário; o Procurador Geral da União denunciando o chefe de estado. Acontecimentos que ameaçam o governo de Temer e podem fazer com que ele sofra um impedimento rapidamente. O jogo está virando, e no meio dessa partida está o Brasil, só perdendo, claro.

Foto: Igo Estrela/Folhapress

Há menos de um mês nos perguntávamos como o presidente em exercício, Michel Temer, continuava no cargo apesar de gravações e material filmado baseados na delação da JBS. Duas semanas depois, o tom das matérias já não é mais o mesmo. Depois da denúncia contra o presidente feita pela PGR e de níveis de aprovação muito baixos, a base aliada já não inspira tanta confiança, com a possibilidade de saída do PSDB.

Na primeira semana de julho, a saída de Temer já parecia certa, era só uma questão de tempo. Se ele de fato sofrer impedimento, quem assume é Rodrigo Maia. O atual presidente da Câmara, filho de César Maia, assume interinamente até que ocorram eleições indiretas. Ele já se configura, no entanto como um candidato viável e que recebe endosso de muitos pares.

A conta do congressista no Twitter, que não era movimentada desde abril de 2016, voltou à ativa, com tweets convocando a necessidade de reformas – trabalhista, previdenciária e mais. A última declaração do deputado federal pelo RJ foi a de que o país não pode esperar até agosto para a votação da abertura do processo de investigação contra Temer, devido à gravidade dos fatos: “O Brasil não pode ficar parado. É uma denúncia contra o presidente da República, é grave. […]É importante que todos nós possamos entender que o Brasil não pode esperar 15 dias”.

Enquanto Maia trabalha para realçar sua visibilidade política, aparecendo mais, tomando posição quando questionado, defendendo a investigação do presidente, mesmo tendo sido um dos principais aliados  do governo na Câmara, Temer parece cada vez mais ilhado. O último revés foi a posição do deputado Sergio Zveiter como relator do processo na CCJ. Mesmo Zveiter sendo do mesmo partido do Presidente, e seu sorteio ter sido considerado uma “sorte”, ele indicou o prosseguimento das investigações. Algumas análises apontam a fraqueza do governo na Câmara depois desse voto favorável, mas pode indicar que para a classe política, Temer já não é mais a melhor opção.  

Os meios de comunicação, grandes responsáveis pela ocupação de Temer na presidência, também o abandonaram. A rede Globo, na medida possível, alfineta o governo e usou de chamadas de urgência na cobertura dos áudios de Joesley e no parecer favorável de Zveiter. A Revista Veja, que já estampou capas indicando Temer como uma melhoria ao país, começou a retratar o presidente de maneira diferente. Com o ritmo atual dos acontecimentos em Brasília, em alguns dias tudo pode estar diferente, mas é importante notar como o governo Temer se aproxima do fim nos mesmos moldes do de Dilma: baixa aprovação popular, pouco apoio político e nenhum apoio dos principais meios de comunicação.

Assim como o mercado, que já se volta para outras opções na Presidência e se configura como um ator político extremamente relevante. É o mercado que parece ditar os rumos do país, reforçando o descrédito nas instituições políticas e a força do capital.

Há que se realçar, no entanto, que o percurso e as acusações de que um e outra foi/ está sendo alvo são bastante diferentes. Será que isto importa – ou vale a ideia de que, no final das contas, e no escuro, todos os gatos são pardos?

Laura Lima
Mestranda do PPGCOM/UFMG
Pesquisadora do GRIS

Paulo Basílio
Graduando em Publicidade e Propaganda da PUC Minas
Membro do GrisLab



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