Análise | Gênero e sexualidade Questões raciais

Por trás da máscara do torcedor brasileiro cordial

A Copa do Mundo chegou, e com ela veio o despertar de sentimentos, a empolgação e a torcida pelo nosso país.
Mas também revelou o machismo, o sexismo e o racismo do povo brasileiro. Maquiados, claro!

Um grupo de brasileiros assedia uma mulher russa com uma “brincadeira”, em que a faziam repetir a frase “buceta rosa” – cujo significado ela não entende – e gravam um vídeo. No embalo da Copa, muitas páginas de humor do facebook fazem suas brincadeiras com o objetivo de atrair o público, gerar engajamento e entreter o povo brasileiro: um meme postado pela página “Nego Di” ridiculariza os jogadores da seleção de Senegal, localizado na África. O que os dois acontecimentos têm em comum?

No primeiro caso, revelam-se sexismo e racismo uma vez que se reduz uma mulher à sua genitália e demonstra-se a clara preferência pela “buceta rosa”, uma alusão às mulheres brancas, excluindo todas as mulheres negras e outras mulheres não brancas. “Enquanto mulheres brancas lutam para serem reconhecidas como pessoas, as negras não conseguem sequer serem reconhecidas como mulheres”, analisando o caso a partir das palavras de Gleide Davis.

No caso do meme, esconde-se o racismo arraigado que se perpetua na sociedade.

O post afirma que os jogadores saíram da rodoviária para os gramados. Na foto da seleção foram inseridos óculos e relógios falsificados, fazendo alusão aos vendedores ambulantes. Esse tipo de “brincadeira” revela a ideologia racista de que os negros só servem para o trabalho informal e empregos que por muitos são desvalorizados. Denota a ideia de que não há espaço para eles no mercado formal.

O Senegal inclusive chamou a atenção por ter o único técnico negro da Copa do Mundo e o que recebe o menor salário entre eles.

O ditado diz que “toda brincadeira tem um fundo de verdade”. Pode ser, mas a verdade aqui não é a inferioridade de mulheres em relação aos homens ou de negros em relação aos brancos, mas o pressuposto de superioridade de homens brancos e a inferiorização do outro, de quem é diferente. As piadas, que mascaram seu conteúdo de fundo, acabam revelando mais sobre seus autores do que sobre seus alvos.

Sendo assim, até quando “brincadeiras” como estas ainda serão feitas? Quando será que a sociedade vai despertar e compreender a anormalidade – e a gravidade – destas situações?

Laura Queiroga 
Publicitária e Redatora, graduada em Comunicação Social pela PUC-MG



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